terça-feira, 11 de junho de 2024

12 jurados e uma sentença



 

*Cesar Vanucci

“A justiça provou que todos são iguais perante a lei” (presidente, Joe Biden)

 

Na era dourada de Hollywood aficionados da chamada 7ª arte foram brindados por produções que deixaram registro inesquecível na memória. Caso sem tirar nem pôr do celebre “12 homens e uma sentença” que acabou rendendo premiações em suas duas versões. A primeira delas, em 1957, dirigida por Sidney Lumet, com Henry Fonda à frente do elenco.  Jack Lammon, sob a direção de William Friedkin liderou outro elenco na versão de 97. O enredo desenrola-se numa sala onde 12 cidadãos, avaliam um caso criminal, com a incumbência de decidir o destino do réu. A câmera e os diálogos exploram admiravelmente as reações comportamentais.

Deve ter acontecido com um mundão de gente o que ocorreu com este desajeitado escriba ao acompanhar os lances da cobertura televisionada referente ao julgamento de Donald Trump, formalmente acusado pela justiça de seu país por 34 crimes. As cenas do filme ricochetearam fortemente na lembrança.

 Os infatigáveis repórteres liberavam informações a curtos intervalos, sobre o que se passava no tribunal. Faziam especulações acerca do que estaria rolando na inacessível sala onde 7 homens e 5 mulheres definiam a sorte do ex-presidente. Olhos grudados nas imagens do receptor, os telespectadores seguíamos as narrativas, dando largas à imaginação quanto ao que deveriam estar fazendo, naqueles momentos os 12 jurados. Perguntávamos a nós mesmos qual seria o placar do veredicto. Sabedores de que a decisão para ser legitimada teria que obedecer a unanimidade em cada item acusatório, arriscávamos palpites sobre o resultado final. Em dado momento, um jornalista antecipou que pelo menos em uma das acusações  Trump já havia sido condenado.

Mas o resultado, surpreendendo o réu só chegou horas depois. Em decisão histórica, inédita na vida americana, Donald Trump foi condenado em todas as 34 situações declinadas no libelo acusatório.

Ao deixar o tribunal, em tom colérico, Donald Trump, disparou uma metralhadora giratória de impropérios contra o presidente Joe Biden, (chamado-o de burro), o juiz, o promotor e o júri afirmando que todos participaram de um complô tenebroso para afasta-lo do poder. Em seu destempero verbal, não poupou nem mesmo, descabidamente, os imigrantes, dizendo que “são todos bandidos”. Recebeu, por incrível que pareça a solidariedade de governantes autocratas, como Putin e Viktor Orbán, além de anêmicos “covers” espalhados pelo mundo.

Correndo o risco de ser preso Trump vai responder ainda a novos processos, envolvendo acusações muito mais graves entre elas atentado contra a democracia pela a invasão do Capitólio.

A legislação estadunidense não impede que um condenado exerça a presidência, mas, convenhamos, como será possível a maior democracia do mundo confiar a alguém com um prontuário desses a responsabilidade de gerir os negócios do país e de influir, com o poder de apertar botões fatídicos, nos destinos de toda a humanidade?

Curiosidade, no filme o réu é inocentado...

 

Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)

 

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