*Cesar Vanucci
“Que haja paz
para que o diálogo entre eles seja fortalecido e dê bons frutos.”
(Papa Francisco,
a respeito do conflito em Gaza).
Amarga
realidade: tudo como dantes no quartel de Abrantes. Os conflitos – dir-se-ão tribais
- congestionam este nosso maltratado planeta. A soma deles, diz a ONU, passa de
centena e meia. A voraz indústria de armas esfrega as mãos de contentamento.
Dividendos polpudos engordam as contas dos acionistas. Os “senhores da guerra” mantêm-se
imperturbáveis e inflexíveis aos clamores da humanidade. Gaza e Ucrânia, pra
ficar apenas em duas citações, continuam sendo referencias brutais do instinto
selvagem que se apoderou, em tantos rincões, de mentes e corações, despossuídos
de humanismo.
No
Vaticano, a voz, sempre lúcida e serena do sábio Francisco exorta os belicosos
adversários da interminável contenda que ensanguenta a Terra Santa ao diálogo e
à concórdia. O Papa junta num abraço simbólico que enternece o mundo inteiro,
um jovem israelense e um jovem palestino, órfãos da guerra, unidos na dor. O
gesto emblemático incorpora-se aos apelos fervorosos vindos de todas as partes,
em prol de pausa humanitária que venha acompanhada de dialogo, em lugar da
troca de tiros, na busca de uma solução civilizada para desavença tão irracional.
Os apelos da opinião pública, como notório, desfazem-se em estilhaços ao
esbarrar na indiferença, insensibilidade e prepotência dos guerreiros
empedernidos.
Reveladores
do inconformismo da sociedade com relação ao horror das guerras, dois posicionamentos
de efeitos políticos e jurídicos importantes acabam de ganhar destaque no
noticiário. Um deles foi tomado no âmbito das Nações Unidas. Por esmagadora
maioria de votos os Países Membros da instituição resolveram conceder à
Palestina direito de assento permanente na Assembleia Geral, com todas as prerrogativas
inerentes. A decisão é interpretada, por um lado, como de caráter apenas
simbólico, face ao entendimento de que o assunto teria que ser apreciado
antecipadamente pelo Conselho de Segurança. Mas existe, por outro lado a
compreensão de que a maciça votação favorável no plenário, incomum na historia
da ONU, garante total legitimidade à resolução. Seja como for, o resultado
indica cabalmente o estado de espírito dominante no sentido de se encontrar,
sem delongas a solução desejada universalmente. Cabe anotar que, além dos
Estados Unidos e Israel, a Argentina de Milei e a Hungria de Viktor Orbán votaram contra.
As fortes tensões
internacionais repercutem também de forma intensa na Corte Internacional de
Justiça de Haia, onde acaba de ocorrer outro fato relevante sobre a guerra no
oriente médio. Criada pela ONU, por inspiração de juristas que atuaram no tribunal de Nuremberg que julgou
os crimes nazistas, a Corte propõe-se a examinar denuncias sobre crimes contra
a humanidade. Sua jurisdição se estende a 123 países. Vladimir Putin figura
entre os 28 dirigentes mundiais sentenciados pela Corte, devido a ato de lesa
humanidade na Guerra da Ucrânia. Contra ele foi expedido mandato de prisão que,
teoricamente, impede sua presença em países jurisdicionados.
Os pavorosos acontecimentos de
Gaza estão levando o Tribunal de Haia a adotar drásticas resoluções. Acha-se em
curso ali denuncia da África do Sul de que estaria havendo genocídio na região.
Dias atrás a procuradoria da Corte assumiu
posição jurídica de enorme relevância. Pediu a prisão do Primeiro-Ministro
de Israel, Benjamin Netanyahu, de seu Ministro
do Exterior e dos três principais líderes do Hamas.
Paralelamente
a isso, provocando áspera reação de Israel, vários países europeus anunciaram
em bloco decisão de reconhecer imediatamente a existência e soberania do Estado
da Palestina. O que o mundo está dizendo é: chega de guerra, instaure-se a paz!
Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)
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