Cesar Vanucci
“Impossível esquecer Dom Alexandre!”
(Juvenal Arduini, padre e
sociólogo de saudosa memória)
A tarde
estava indo embora. Os últimos clarões do sol se dissolviam no céu de Roma. A
noite descia com a suavidade de uma bênção. Uma quarta-feira de outubro de
1989. O papo, reunindo bons amigos, corria desenvolto no gabinete do então Embaixador na Itália, O
uberabense Carlos Alberto Leite Barbosa. Eu tinha ido à Itália a serviço da FIEMG.
Havia coordenado uma delegação de empresários
em Milão. Visitava o Embaixador, amigo de muitos anos e conhecia embevecido, a
sede da embaixada na Praça Navona, um palácio renascentista que já fora do
Papado. Estava acompanhado do amigo e empresário Adson Marinho, pessoa ligada a
Uberaba desde os tempos universitários. Uberaba, o tema dominante na
conversação. E como não poderia deixar de ser, a figura do Arcebispo Alexandre
Gonçalves Amaral, conhecido dos três, foi evocada. Alexandre, acompanhado do
Pe. Hiron Fleury e da Irmã Maria Virgínia dedicada colaboradora, achava-se em
Roma. Seria recebido, dias depois, por João Paulo II. Conversa vai, conversa
vem, a remota hipótese de um brasileiro vir a se tornar Papa aflorou, de
repente, naquele papo. Quando me tocou opinar, deixei registrada uma impressão
que sempre carreguei comigo e que aqui agora sintetizo: se o destino houvesse
conduzido Dom Alexandre, nalgum momento a uma Diocese de maior envergadura como a de
São Paulo ou de BH, ele teria sido fatalmente convidado a integrar o colégio
cardinalício. E, sinceramente, não me surpreenderia nada, a partir dali,
sabê-lo convocado para outras atividades relevantes no Vaticano e, indo mais
longe, a ser, até mesmo, lembrado como candidato à cátedra de Pedro. Cultura,
carisma, inteligência, sabedoria, vivência humanística e espiritual: Alexandre
enfeixava todos esses dons, com suficiente sobra para desempenhar qualquer missão,
dentro da vocação que abraçou com disposição franciscana e entrega total. Revendo
as imagens desse encontro, trago, reconfortado, a tempo presente a constatação
de que a manifestação, que poderia ter sido de surpresa por parte de pessoas
que não conheceram de perto o Dom de Uberaba, não arrancou dúvidas nem questionamentos
dos interlocutores. Não vislumbrei em seus gestos, palavras, ou semblantes,
qualquer indício de que a afirmação os houvesse chocado. Ponho-me a imaginar
que os dois, já eram conscientes de que o nosso personagem, por sua afirmação
de vida serena, encharcada de autenticidade, sempre foi um cristão integral, em
pensamentos, palavras e obras, ostentando perfil mais que perfeito para
qualquer função eclesial.
Estas
lembranças acodem-me irresistivelmente nas imediações de 12 de junho, no 118°
aniversario de Alexandre. Ele foi o Bispo mais novo da historia ao ser sagrado
em 1938. Ao falecer em 2002, era o Bispo com maior tempo de atividade eclesial
da história. Uma criatura extraordinária!
Jornalista(cantonius1@yahoo.com.br)
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