sábado, 10 de agosto de 2024

Mulheres negras de ouro

 



                                                                                            *Cesar Vanucci

“lindo momento de irmandade e espírito esportivo! Dá pra sentir o amor brilhando através dessas moças” (Michelle Obama falando do feito de Rebeca).



Mais uma Olimpíada! Os olhares do planeta, fatigados diante das intermináveis cenas do desvario corrente, se voltam, em pausa esperançosa, para os espetáculos de Paris. Muitos alimentam fugidio sonho, por breve espaço de tempo, que lhes permita desvencilharem-se das amarguras causadas pelas guerras, desigualdades e tantos outros dramas que agridem a consciência.    

Os Jogos representam, sim, esplêndida demonstração de vigor atlético e engenho para se formatar momentos de extasiante   beleza. Mas, além de seus significados visíveis, o festival Olímpico alcança as culminâncias de um triunfo do espírito. Em sua estupenda configuração humanística e ecumênica, esta empreitada de labor e inteligência expõe as virtualidades da alma e do sentimento popular. A diversidade, em suas múltiplas exteriorizações, é apanágio das disputas. Os competidores deixam de lado as toscas diferenciações mundanas que costumam afasta-los uns dos outros na convivência cotidiana, para darem-se as mãos efusivamente na celebração do dom da vida. Etnias, nacionalidades, cor da epiderme, crenças, condições econômicas, intelectuais variadas, tudo isso perde seu peso e valor social, cedendo lugar para geral e irrestrita confraternização.     Uma sólida aliança do espírito humano.

 Da volumosa sequência de imagens emocionantes proporcionadas ao longo das provas, algumas vão se eternizar na lembrança esportiva. “Rebeca, a mulher inesquecível”: puxando da memória, trazemos a tempo presente o título de um filme que foi sucesso de critica e bilheteria nos anos 50, para registrar o embevecimento deixado no espírito popular pelo feito histórico da ginasta brasileira Rebeca Andrade. Mulher negra, 25 anos, de descendência humilde, atleta de rara estirpe, fez jus à consagração universal ao subir ao topo do pódio graças a uma impecável coreografia na ginástica solo. O magnífico gesto das duas campeoníssimas atletas estadunidenses, igualmente negras, que a acompanharam na triunfante jornada, reverenciando-a na hora da entrega da medalha de ouro, ficou gravado como retrato emblemático dos jogos de Paris. Jornal parisiense estampou foto do ato na primeira página proclamando “Olimpíada é tudo isso”. Cabe dizer que Rebeca tornou-se nossa maior medalhista olímpica de todos os tempos.

 Beatriz Souza, 26 anos, de origem modesta, sargento do Exército, foi outra mulher negra que empolgou seus patrícios e público ao conquistar medalha de ouro no judô. Tanto Rebeca quanto Beatriz, além de vários outros disputantes, foram amparados em suas carreiras pelo programa “bolsa atleta”. O desempenho dos competidores brasileiros que arrebataram outras reluzentes medalhas contribuiu para que nossa participação nos jogos pudesse ser classificada de relevante. “Isso tudo foi muito bonito de se ver”.

 Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)

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