quarta-feira, 11 de dezembro de 2024

A baita encrenca Síria

 

 Cesar Vanucci


“A Síria está uma bagunça, 

     mas não é  nossa amiga', 

(Trump sobre avanço rebelde)








Mohammed al-Jolani 



A saída de cena de um ditador cruel, caso sem tirar nem por de Bashar al-Assad, deposto por uma frente de forças políticas bastante  heterogêneas, várias delas de feição radical, levanta uma certa sensação de alívio em redutos democráticos. Mas, paralelamente a isso, produz indisfarçável receio, quanto às incertezas do que poderá vir acontecer na convulsionada Síria daqui para adiante.

O porta-voz do grupo insurreto, Abu Mohammed al-Jolani, de nacionalidade síria, garantiu em seu  primeiro pronunciamento,  ser intenção dos vitoriosos, estabelecer, prioritariamente, um clima de pacificação geral. Asseverou que não haverá represálias, nem perseguições a adversários, com respeito absoluto aos direitos civis e crenças das múltiplas correntes ideológicas, religiosas e políticas, que povoam o país.  Uma das medidas tomadas pelos novos detentores do poder foi a libertação de todos os presos políticos, o que deu causa a ruidosas manifestações de jubilo nas ruas.

O mundo inteiro vem acampando o farto noticiário a respeito da queda do tirano Assad.  Tomou conhecimento de seu exilo com familiares na Rússia. As atenções da opinião publica internacional se voltam também, como é obvio, para os movimentos da coalizão que assumiu comando político sírio e que, por anos a fio enfrentou o despótico regime, ou seja, a “dinastia” Assad que, passada de pai para filho, reinou por meio século.

Observadores categorizados da geopolítica mundial confessam-se sem condições, nestes instantes prefaciais da nova ordem política no conturbado território, de prever, com exatidão, os rumos dos acontecimentos. Perguntam-se: A proclamação de fé no futuro democrático da região será mesmo pra valer? As dúvidas procedem. Como olvidar situações bem problemáticas que se abrem a um exame cauteloso dos fatos, envolvendo posicionamentos defendidos em passado recente por integrantes das facções alçadas ao poder? O líder Jolani, por exemplo, pertenceu aos quadros do Estado islâmico, foi membro Al-Qaeda, teve seu nome e foto estampados em cartazes, distribuídos pelo exercito americano no Iraque sendo acusado de terrorista. A “organização de Libertação do Levante” de que faz parte, é acusada de ações terroristas pela própria ONU. As facções parceiras não escondem seu caráter "jihadista. Noutras palavras: são originárias do radicalismo islâmico.

 Tudo quanto exposto deixa evidenciado – vamos repetir – um cenário de incertezas, alimentadas ainda pela circunstancia de as facções agrupadas possuírem orientações políticas diferenciadas que já deram causa a hostilidades entre si. São justificados os temores acerca de manobras inesperadas dos integristas religiosos. “A Síria é uma bagunça”, como diz Trump.

 

Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)

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