O filme é a Eunice Paiva
(Fernanda Torres)
O
Brasil da amorosidade, da sensibilidade social e da vocação democrática apostou
na premiação todas as fichas de sua inesgotável esperança. Deu certo. O “Ainda estou
aqui” chegou lá. O cobiçado Oscar, como melhor filme estrangeiro, juntou-se a
outros reluzentes troféus já conquistados pelo esplêndido filme de Walter
Salles em outros famosos centros mundiais da consagração cinematográfica. Entre
eles “O Globo de Ouro” de melhor atriz arrebatado pela magnífica Fernanda
Torres.
Marco
épico no plano artístico cultural, o filme tornou-se também referência
histórica maiúscula na vida política e democrática brasileira. A mensagem poderosa
que dele deflui é de clareza solar: “Ditadura nunca Mais!” Ganha sonoridade especial
nos dias que correm, quando a Justiça se prepara, debaixo do olhar atento da
Nação, para emitir veredicto acerca da participação da cúpula sediciosa na trama
que colocou sob risco as sagradas instituições democráticas e republicanas.
A
ovação popular que se seguiu, de norte a sul, de leste a oeste do país, à
proclamação em Hollywood do premio atribuído, pela vez primeira a uma obra de
arte fílmica, inspirada em historia real narrada num livro brasileiro, protagonizada
e dirigida por brasileiros e falada em nosso idioma foi de deslumbramento
indescritível. A maior festa das ruas em todo o mundo, ou seja, o carnaval
brasileiro elevou ao zênite o entusiasmo das pessoas já envolvidas, solidariamente
nos frenéticos folguedos. A vibração alcançou também os que solitariamente optaram
pelo recolhimento durante o período momesco. Alguns poucos elementos da
atividade política preferiram guardar silêncio envergonhado com relação ao
grande feito cultural, fazendo prova com tal procedimento de indigência cívica
e intelectual.
Aplaudido
pela critica e pelo público em milhares de salas de projeção onde vem sendo
exibido, em dezenas de países, o longa metragem ganhador da estatueta dourada é
visto como uma saga dos tempos modernos, por onde se projeta o anseio generoso dos
homens e mulheres de boa vontade, dos humanistas, dos democratas, em prol das
liberdades e dos direitos fundamentais. O drama existencial vivido pela família
Paiva, heroicamente conduzida por Eunice Paiva e contado no excelente livro
escrito por Marcelo, filho do deputado “desaparecido”, ajuda a gente a entender
o significado da celebre frase proferida pelo saudoso Ulysses Guimarães na promulgação da constituição que nos rege: “Eu
tenho nojo da ditadura”.
Por
derradeiro, aqui vai registro que soará, certeiramente, como novidade para
grande maioria das pessoas. Há 80 anos, em 1945, nosso maior compositor
musical, Ary Barroso, produziu “Brasil”, primeiro filme a concorrer ao Oscar.
Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)