segunda-feira, 10 de março de 2025

“Ainda estou aqui” chegou lá.

 



O filme é a Eunice Paiva (Fernanda Torres)

 

O Brasil da amorosidade, da sensibilidade social e da vocação democrática apostou na premiação todas as fichas de sua inesgotável esperança. Deu certo. O “Ainda estou aqui” chegou lá. O cobiçado Oscar, como melhor filme estrangeiro, juntou-se a outros reluzentes troféus já conquistados pelo esplêndido filme de Walter Salles em outros famosos centros mundiais da consagração cinematográfica. Entre eles “O Globo de Ouro” de melhor atriz arrebatado pela magnífica Fernanda Torres.

Marco épico no plano artístico cultural, o filme tornou-se também referência histórica maiúscula na vida política e democrática brasileira. A mensagem poderosa que dele deflui é de clareza solar: “Ditadura nunca Mais!” Ganha sonoridade especial nos dias que correm, quando a Justiça se prepara, debaixo do olhar atento da Nação, para emitir  veredicto acerca  da participação da cúpula sediciosa na trama que colocou sob risco as sagradas instituições democráticas e republicanas.

A ovação popular que se seguiu, de norte a sul, de leste a oeste do país, à proclamação em Hollywood do premio atribuído, pela vez primeira a uma obra de arte fílmica, inspirada em historia real narrada num livro brasileiro, protagonizada e dirigida por brasileiros e falada em nosso idioma foi de deslumbramento indescritível. A maior festa das ruas em todo o mundo, ou seja, o carnaval brasileiro elevou ao zênite o entusiasmo das pessoas já envolvidas, solidariamente nos frenéticos folguedos. A vibração alcançou também os que solitariamente optaram pelo recolhimento durante o período momesco. Alguns poucos elementos da atividade política preferiram guardar silêncio envergonhado com relação ao grande feito cultural, fazendo prova com tal procedimento de indigência cívica e intelectual.

Aplaudido pela critica e pelo público em milhares de salas de projeção onde vem sendo exibido, em dezenas de países, o longa metragem ganhador da estatueta dourada é visto como uma saga dos tempos modernos, por onde se projeta o anseio generoso dos homens e mulheres de boa vontade, dos humanistas, dos democratas, em prol das liberdades e dos direitos fundamentais. O drama existencial vivido pela família Paiva, heroicamente conduzida por Eunice Paiva e contado no excelente livro escrito por Marcelo, filho do deputado “desaparecido”, ajuda a gente a entender o significado da celebre frase proferida pelo saudoso Ulysses Guimarães na promulgação da constituição que nos rege: “Eu tenho nojo da ditadura”.

Por derradeiro, aqui vai registro que soará, certeiramente, como novidade para grande maioria das pessoas. Há 80 anos, em 1945, nosso maior compositor musical, Ary Barroso, produziu “Brasil”, primeiro filme a concorrer ao Oscar.

 

 Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)

O método Trump



 

                 “É loucura, mas há um método.” (Shakespeare).

 


Anos atrás, ainda no primeiro mandato, o órgão de classe dos psiquiatras, nos EUA emitiu parecer questionando a condição mental do Presidente. Seus ditos e feitos, monopolizando manchetes e produzindo tensões, contribuem em muito para que a opinião pública aceite como veraz o diagnóstico.

Atropelando leis, rasgando tratados, desfazendo regras instituídas ou estimuladas pelos próprios EUA, nas relações multilaterais Trump apresenta-se ao olhar mundial, de repente, como “providencial arauto” de “ideias novas”, todas resvalando o absurdo. Manifesta interesse em comprar a Groelândia, anexar o Canadá, tomar o Canal do Pananá, deportar 10 milhões de imigrantes, encarcerando parte deles em Guantanamo e em presídio de El Salvador. Não se dando por satisfeito, anuncia a retirada, na força bruta, se não puder ser “espontânea”, de 2 milhões de palestinos radicados nos escombros de Gaza, alojando-os na Jordânia e Egito, apesar, dos dois países se recusarem peremptoriamente, mesmo sob ameaças de represálias, a participar do medonho êxodo. Aponta duas alternativas como “solução” da questão do território palestino: a) transformar-se em Riviera do Oriente Médio; b) tornar-se uma sucursal do inferno. Diz isso sem atentar para as circunstâncias de que os palestinos já conhecem de sobra o que seja viver uma experiência infernal. Deixa expresso que o território pertencente aos palestinos não será comprado, mas sim tomado na marra.

As manifestações de desagrado pelo que está rolando avolumam-se. Além obviamente dos ruídos produzidos nos circuitos diplomáticos, vêm ocorrendo outras reações, até outro dia impensáveis, em ambientes que sempre mostraram receptividade simpática ao povo, cultura e costumes estadunidenses. Caso, por exemplo, dos canadenses, que pregam boicote aos produtos do vizinho país e substituem aplausos por vaias, em competições esportivas quando o hino dos Estados Unidos é executado.

E o que não dizer da onda de questionamentos levados à apreciação da justiça por cidadãos e organizações de seu próprio país?  

Desrespeitando acordos comerciais de longa data consolidados, desestabilizando a Organização Mundial do Comércio (OMC), os gravames fiscais impostos a fornecedores de produtos carreados ao mercado de consumo de seu país, as políticas de comércio exterior colocadas em prática pelo ocupante da Casa Branca afetam o Brasil, como de resto, praticamente todos os países que fazem parte do sistema de intercâmbio negocial.

Analistas da conjuntura mundial apontam como fatores influenciáveis das decisões criticadas, o chauvinismo medular presente na orientação politica do presidente e as circunstâncias da China haver atingido superávit recorde de quase 1 trilhão de dólares na balança comercial, enquanto os Estados Unidos amargaram déficit quase equivalente em suas transações comerciais.

Jornalista Cesar Vanucci

 

Estarrecimento e indignação

 

  “Vejo o inquérito da trama golpista como um dos mais graves da história da Corte”

(Ministro Gilmar Mendes.)  ]



 

O ex-presidente Jair Messias Bolsonaro declarou-se “estarrecido” e “indignado” com as acusações feitas pela Procuradoria Geral da Republica apontando-o como chefão das articulações do grupo engajado na trama golpista. As expressões utilizadas são exatamente - por sinal as mais brandas - empregadas nas ruas e lares como tradução do sentimento nacional, diante da nefanda tentativa de ruptura democrática capitaneada pelo ex-chefe do governo.

O descomunal conjunto de provas coletadas pela Policia Federal e já apreciadas no âmbito da PGR configuram, sem a mais pálida sombra de dúvida, uma ação premeditada, calculada em todas assustadoras minudencias, com o inequívoco intuito de profanar a legitimidade de uma eleição democrática e mergulhar o país nas trevas do autoritarismo.

A delação do ajudante de ordens, os categóricos depoimentos dos comandantes do Exercito e Força Aérea, os vídeos, os áudios, as mensagens e diálogos resgatados dos celulares apreendidos, as reuniões gravadas, as minutas de atos executivos instaurando o caos  e por aí vai, tudo no processo deixa à mostra com clareza solar as digitais e as pegadas dos integrantes do clã Palaciano, na torpe arregimentação sediciosa.   

No arrazoado do Procurador Geral incriminando Bolsonaro e outras trinta e três pessoas, entre elas Braga Neto, Vice na chapa derrotada em 2022, são acusados pelos crimes de golpe de Estado, abolição violenta do Estado Democrático de Direito e formação de quadrilha.  Outra acusação grave imputado ao ex-presidente e companheiros diz respeito ao monitoramento do Presidente Lula, Vice-Presidente Alckmin e Ministro Alexandre de Moraes, do STF, dentro de um plano diabólico, denominado “Punhal verde amarelo” que tinha sob mira o assassinato de todos eles.

A alentada peça acusatória revela como se processou, passo a passo, ao longo de vários meses, o encadeamento dos episódios relevantes que compuseram o enredo do complô contra as instituições republicanas. Os dramáticos eventos do “8 de janeiro”, juntamente com as manifestações nas imediações dos quartéis, arruaças e atentados em Brasília, obstrução de rodovias, agressões e intimidações via internet e outros meios constituíram  lances perturbadores orquestrados pelo ativo núcleo operacional comprometido com a derrubada do regime. O importante papel desempenhado pelo autocomando Militar na conjuntura política da época é ressaltado pela PGR e PF como fundamental no sentido da abortagem da sinistra conspiração que se achava em andamento.

 

Caberá agora ao STF avaliar e julgar os fatos. A Democracia sai fortalecida desta história. O sentimento Nacional repele toda e qualquer ameaça contra os direitos fundamentais.

Jornalista(cantonius1@yahoo.com.br)

Mundo de pernas para o ar

  

. “Eu comprei este carro antes de Elon Musk enlouquecer” (Proprietários de veículos da Tesla na Alemanha)

 




O repertorio de “novidades impactantes” de Trump é mesmo inesgotável. Cá estão algumas das mais recentes.  

O Presidente conduziu negociação com o “Tzar” Vladmir Putin dizendo que iria por fim na guerra da Ucrânia. Desprezou velhos aliados da OTAN, bem como o dirigente ucraniano Zelensky, o que causou estupefação nos círculos diplomáticos e no seio da opinião pública internacional. O surpreendente gesto de aproximação com o Presidente russo foi acompanhado do levantamento de sanções impostas pelos EUA a Moscou em razão da tão criticada invasão. A incontinência verbal e arrogância imperial de Trump levaram-no a dizer – vejam só! - que Zelensky provocou o conflito e não passa de um político irrelevante, ditador refratário a eleições. A situação fica mais atordoante quando se toma ciência de que o “acordo”, à revelia dos ucranianos e dos europeus prevê a posse pela Rússia das terras ocupadas na marra. Isto corresponde a quase 25 por cento da área total do país invadido. Tem mais; Trump mandou dizer ao presidente da Ucrânia que aceite os termos ou se prepare para perder o país. Por incrível que pareça, foi ainda mais longe: exige do governo de Kiev, como compensação pelo “acordo de paz” proposto, nada mais, nada menos que a outorga do direito de exploração de suas jazidas minerais raras pelos EUA. Emprega outro “argumento poderoso” mirando as riquezas do subsolo ucraniano: a ajuda de quase 200 bilhões de dólares destinada durante o governo Biden ao esforço de guerra do governo da Ucrânia.

Na data que marcou o terceiro ano da presença das tropas Russas no território vizinho, Zelensky declarou que estaria disposto a deixar o cargo, desde que fosse assegurada a entrada de seu país na OTAN. A Casa Branca discorda da proposta. Quer na realidade a rendição incondicional da nação agredida.

 Noutra frente da turbilhonante atuação do Governo Trump, seu vice J.D. Vance, em giro recente por países europeus, criticou causticamente os aliados do “Velho Mundo” pela atitude de isolarem o partido extremista alemão que tenta ressuscitar teorias nazistas. Foi rebatido veementemente pelas lideranças europeias. O gesto do vice coincidiu com duas outras manifestações chocantes, condenadas pelas mesmas lideranças e por democratas nos Estados Unidos e outras partes do mundo. Assessor de Donald Trump, num encontro de dirigentes ultraconservadores ergueu o braço duas vezes em inequívoca saudação hitlerista. Elon Musk, a seu turno, apoiou abertamente a campanha dos extremistas alemães, no pleito recém-findo. Por tal motivo, nas ruas das cidades alemãs carros da marca Tesla circulam com dísticos afixados nos para-brisas contendo os seguintes dizeres: “Eu comprei antes de Musk enlouquecer.” O mundo está mesmo de pernas pro ar. E vem mais coisa por aí...

Jornalista (cantonius1@yahho.com.br)

Pororoca de atos despropositados

 


“Conversando é que a gente se entende.” (Ditado popular).

Trump foi eleito presidente, não Imperador.

Podendo muito, não pode, todavia, tudo. Não pode se arvorar de poderes imperiais na condução dos negócios da grande nação, potência democrática, política e econômica universalmente admirada. A pororoca de decisões tomadas, abalando a convivência entre países, alterando abruptamente regras consolidadas nas relações diplomáticas, vem produzindo desassossego em demasia. A ordem institucional na cena mundial carece ser aprimorada, não debilitada. O momento recomenda diálogos, não monólogos. Conversando é que a gente se entende.

Do volumoso conjunto de ações causadoras de espanto, observadas nos domínios da Casa Branca destacamos aqui mais este fato. A “revista Time” estampou na capa Elon Musk sentado na mesa presidencial do salão oval, insinuando que o magnata compartilha o poder com Trump. Elon comentou, pateticamente, que “amo Donald tanto quanto um heterosexual consegue amar outro homem”.

Enquanto isso aviões despejam deportados em Guantanamo, temível ilha presídio localizada em Cuba, administrada pelos EUA.

Acredite, se quiser.

A sensação de muita gente é de que o mundo está de pernas pro ar. Coisas estranhas continuam pintando no pedaço, como se costuma dizer no tagarelar das ruas. Reunimos abaixo “quentes” amostras.

1 - Autoridades do setor de saúde investigam um hospital de São Paulo voltado para assistência filantrópica, devido à denúncia de que estão sendo utilizadas ali, em intervenções ortopédicas, “furadeiras domésticas”. A chocante revelação não esclarece se, além da “furadeira”, os profissionais de saúde do estabelecimento não estariam empregando também, nos procedimentos, martelos, pregos e serrotes...

2 – Dona de casa, no café matinal servido a familiares, encontrou na massa do pão de forma uma bala de fuzil. Narrando o sucedido para um grupo de conhecidos indagamos se eles saberiam apontar a cidade em que a insólita cena ocorreu. Todos, “sem titubeios,” responderam a uma só voz: - Rio de Janeiro!

3 - O grupo - tarefa coordenado pelo Ministério Publico e Corregedoria da Policia de São Paulo fez visita de surpresa ao presidio da Policia Civil do Estado, onde se acham recolhidos 100 elementos da chamada “Banda podre” da instituição. Na cela de dois agentes acusados de envolvimento na cilada que assassinou, no aeroporto de Guarulhos, o delator das tramas criminosas do PCC, deparou-se com duas dezenas de celulares, além de sofisticado aparato eletrônico para comunicações externas.

4 – Os integrantes do  Ministério Público de São Paulo acabam de ser contemplados com benefício especial que garante, a muitos deles, holerites complementares da ordem de Um milhão de reais. Essa grana toda, provém de “vantagens” auferidas com retroatividade à década passada. A imprensa estima que o generoso “prêmio por serviços prestados”, favorecendo quase 2 mil servidores, possa alcançar a altitude "everestiana” de um bilhão.

Dá “procês”?

  Jornalista Cesar Vanucci

 

Conveniências geopolíticas equivocadas


“Trump pretende fazer de Gaza uma nova Riviera.” (Dos jornais)

Deu a louca nos domínios geopolíticos. A temporada de absurdidades instaurada com o retorno de Donald Trump ao poder ganha impetuosidade crescente, enchendo o mundo de temores.

Em recentes comentários já alinhamos alguns lances estapafúrdios, incluídos no rol das decisões adotadas pela Casa Branca. Acrescentamos, agora, outras medidas tão ou mais perturbadoras até, estridentemente anunciadas que estão causando compreensível sobressalto no seio da opinião pública. Recepcionando o primeiro Ministro de Israel Benjamin Netanyahu, Trump declarou-se propenso a ocupar Gaza, desalojando as multidões de palestinos que ali sobrevivem. A “limpeza” abrangeria o deslocamento da população para outras áreas, em outros países. A “luminosa” ideia foi compartilhada com entusiasmo pelo dirigente israelense, mas foi repelida com veemência em todas as partes do planeta, a começar pelos países árabes. Egito e Jordânia deram categórico “não” à proposição. A Arábia afirmou que não manterá relações diplomáticas com Israel caso a proposta vingue. Aditou ainda o propósito de só se aproximar de Telavive depois da implantação de um Estado da Palestina soberano em Gaza e Cisjordânia. A França, a Inglaterra e demais países europeus também registraram seu desacordo, sustentando que a propalada reconfiguração de Gaza equivale a uma diáspora incompatível com as leis internacionais e a Declaração dos direitos fundamentais da ONU.

Agravando ainda mais a situação o governo de Israel deixou claramente explicito que o melhor a fazer na crise do Oriente Médio é afastar de vez a ideia da criação do Estado da Palestina. É de se ver que tal posicionamento colide em cheio com o sentimento universal. O Estado da Palestina é apontado por todos, em todas as esferas do pensamento evoluído, como a solução ideal para se por fim aos conflitos ininterruptos que tantos males causam a israelenses, palestinos, libaneses, gente de outras nações que povoam o território sagrado em que se localiza a fonte matricial das correntes religiosas do Deus único. 

Descabida e inoportuna, a ideia de se fazer de uma Gaza esvaziada de palestinos uma nova Riviera, em razão das belezas naturais de sua orla marítima, não ajuda em nada a causa da paz. Muito antes, pelo contrário. O assunto suscita, como visto, discordância global. De outra parte, brotam da conjuntura nascida da manifestação do presidente do país mais poderoso do mundo, receios de que os esforços pela sensação de hostilidade em Gaza possam ser afetados. O desafogo pela trégua arduamente conquistada, o alívio pela libertação dos reféns, a esperança ardente, a partir daí, de uma paz definitiva favorecendo a convivência fraterna de judeus e palestinos não podem ser alvejados por conveniências geopolíticas equivocadas.

Jornalista Cesar Vanucci

terça-feira, 4 de fevereiro de 2025

Hora do espanto e incertezas.


“Todo cuidado é pouco. Viver é coisa de louco” (verso de canção da MPB)

 

 A confusão é geral. No xadrez geopolítico, infinidade de lances desconcertantes provoca sustos e incertezas. O espanto se banaliza. São tantas as “teses novidadeiras”, brotadas do bestunto dos “donos do poder”, que o jeito, visando reduzir tensões, é cada qual esforçar-se ao máximo para não mais se espantar com coisa alguma.

Coletamos, na sequência, luzidia amostra dos insólitos acontecimentos que vêm rendendo manchetes à mancheia. Nos céus de Washington, avião de passageiros e helicóptero militar colidem, numa tragédia que ceifa dezenas de vidas preciosas. Em comentário a respeito do acidente, Donald Trump insinua que a pavorosa ocorrência foi causada pela política de diversidade de inclusão social do antigo governo... O magnata Elon Musk, na condição de assessor destacado da Casa Branca, anuncia a extinção do órgão encarregado de programas de ajuda humanitária no mundo todo. Acusou a agência, que agrupa milhares de servidores, de promover atos criminosos. Determinou ainda que a cede do órgão fosse interditada, com cordões de isolamento com vistas a impedir o ingresso dos funcionários. No capítulo das deportações indiscriminadas de imigrantes, famílias inteiras foram detidas pela polícia aduaneira, devido a circunstancia de se comunicarem em espanhol. No local da detenção descobriu-se que todos os cidadãos eram americanos de origem porto-riquenha. Crescem as ameaças e decisões do governo americano configurando guerra fiscal envolvendo parceiros comerciais próximos e distantes.  As medidas têm dado margem a reações vigorosas e confabulações diplomáticas de emergência, trazendo óbvias inquietações. O titular da pasta de saúde da administração Trump, filho de Robert Kennedy e sobrinho do Presidente John Kennedy, tornou-se conhecido pelas posturas negacionistas científicas. A impressa lembra sempre que ele se posiciona contra as vacinações, sustentando que o processo de imunização é fatal para o ser humano. Outro gesto de Trump de repercussão negativa mundial diz respeito ao corte de verbas para todas as agências governamentais envolvidas em políticas de integração social favorecendo minorias comunitárias. Releva anotar também a perseguição ostensiva aplicada a numerosos servidores do antigo governo, em razão de terem participado de processos movidos pela Justiça contra Trump, entre eles o da tentativa de golpe.

 A onda avassaladora de decisões estapafúrdias produziu contaminação na Casa Rosada em Buenos Aires. O notório Javier Milei comunicou à praça, todo solene, a construção de um muro de 200 metros na fronteira (com extensão de milhares de km) com a Bolívia, mode que impedir a entrada de imigrantes.

Ora, veja, pois!

                     Jornalista(cantonius1@yahoo.com.br)

 

Os sinais da natureza não podem ser ignorados

 


*Cesar Vanucci

 A transição para energia limpa será mais difícil sem os EUA” (André Corrêa do Lago, presidente da COP30)

 

Na vida real Los Angeles transforma-se, de repente, num filme apocalíptico. A cidade dos estúdios, astros e estrelas, que se fez mundialmente conhecida como Meca do cinema, arde em chamas por causa de incêndios florestais incontroláveis.  Em Washington, por outro lado, o negacionismo oficial, reinstalado no poder, inflige contundentes revezes à Ciência e ao meio ambiente. O planeta enfrenta, atônito, os efeitos da era das mudanças climáticas extremas, ocasionadas pelo efeito estufa.

Noutras paragens deste mundo de Deus, onde o tinhoso costuma plantar perturbadores enclaves, a natureza continua a emitir sinais inquietantes, não poucas vezes desdenhosamente ignorados, por lideranças influentes que se deixaram dominar por cega e embriagadora autossuficiência. O negativismo derivado desses posicionamentos equivocados, altamente contagioso, retarda soluções e agrava os problemas que surgem de forma inesperada e intensa.

O verão brasileiro vem trazendo anomalias atmosféricas de toda ordem. Temporais devastadores, sucessivas ondas de calor, aponto de instaurar estado de emergência em centenas de municípios, com casos numerosos de morte e volume incomum de danos patrimoniais.  Grandes áreas urbanas, como sabido, têm sido castigadas pelas intempéries. Enquanto isso, seca inclemente atinge outras regiões de nosso território, provocando igualmente desastrosos resultados.

A conjuntura climática não é diferente em parte alguma da morada humana, seja nos 3\4 das águas oceânicas, seja no restante continental.tudo está em frenética ebulição, representando – como não se cansam de proclamar os cientistas – uma séria ameaça à sobrevivência dos seres vivos.  Dias atrás, por exemplo, desprendeu-se da calota polar antártica, colossal iceberg, de tamanho superior à superfície da cidade de São Paulo. Vagando sem rumo, despejando pelo caminho parte de seu conteúdo e elevando com isso o nível do mar, ele poderá vir a colidir com uma ilha na Geórgia do Sul, território britânico, refúgio de vida selvagem.  Algo parecido ocorreu, algum tempo atrás, com outra estrutura glacial nas mesmas circunstancias.

Todos esses registros carecem ser vistos sem intenção de trocadilho, como a ponta do iceberg de uma problemática angustiante em condições de influir nos rumos da nossa civilização.

A retirada do governo dos Estados Unidos do “Acordo de Paris” afetou, de certo modo a COP30, programada para novembro no Brasil. As decisões do conclave em Belém do Pará serão cruciais no tocante às salvaguardas que o mundo precisa adotar de maneira a responder adequadamente aos  dramáticos desafios impostos pela convulsão climática. É preciso usar criatividade para suprir o vazio da ausência estadunidense.

Jornalista(cantonius1@yahoo.com.br)

Deportação em massa causa clamor.

 


 

*Cesar Vanucci

“A deportação indiscriminada atrita com direitos fundamentais.” (Domingos Justino)

 

A política de deportação em massa levada a cabo pelo governo dos EUA  está sendo enxergada, por muita gente dentro e fora do país, como ato de feição terrorista. Não padecem dúvidas quanto ao direito legítimo que todo país possui de banir, do seu território, estrangeiros que nele ingressem de forma ilegal. Mas, porém, contudo, todavia, o que está acontecendo, em escala descomedida, é coisa diferente. Extrapola limites do bom senso e dos ditames humanitários. Por tal motivo, o inconformismo diante das arbitrariedades praticadas eclode tanto no seio da sociedade estadunidense, quanto junto á opinião pública mundial.  Lideres e personagens engajadas, mundo afora, na defesa dos direitos fundamentais do ser humano compõem coral de vozes com criticas acerbas aos métodos utilizados na expatriação em marcha.

Imaginava-se, no começo de tudo, que o “bota fora” iria ser aplicado apenas aos que haviam entrado no país de forma furtiva e entre esses os que tivessem contas a prestar à justiça. Ocorre, entre tanto, que nas levas dos “excluídos” tem sido também “contemplada” verdadeira multidão já radicada na comunidade. Ou seja: chefes de família, com residência fixa, participação no mundo do trabalho e na vida social, na expectativa ainda da almejada regularização migratória.

Gente acorrentada, retirada na marra dos locais de tralho levada, só com  roupa do corpo, em voos fretados para à pátria de origem; filhos desapartados dos pais abrigados em casas de amigos; lares defeitos e bens deixados para traz; centros de assistência a imigrantes invadidos pela polícia aduaneira; deprimentes casos de delação e discriminação. O drama vivido por homens, mulheres e até crianças de diferentes nacionalidades, alvejados pelo expurgo implacável, ganha clamor universal. O espanto crescente com que as pessoas, em todas as partes do mundo, tomam conhecimento do que anda pintando no pedaço, em Washington, adquire outra amplitude quando se tem a informação de que o Presidente Donald Trump é filho de imigrante, neto de imigrantes e casou-se com uma imigrante. Sem falar que a grandeza dos Estados Unidos, maior potência mundial, foi construída com participação decisiva de imigrantes.  Homessa! Por que, então, essa empolgação infrene, roçando as franjas da paranoia, de promover o desterro de tantas criaturas ao mesmo tempo? De juntar, nesse gigantesco despejo, como se fossem farinha do mesmo saco, ilegais infratores com cidadãos de vida já consolidada no país, inseridos no esforço construtivo da sociedade?

Sabedor também de que a migração tem impacto positivo na economia do país, o mundo deplora essa “caça as bruxas” que tanto mancha a imagem da pujante democracia estadunidense.

Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)

quinta-feira, 23 de janeiro de 2025

Muita encrenca à vista

 


 

*Cesar Vanucci

“Uma das qualidades de um grande líder é ter misericórdia.”

(Bispa Mariann Edgar Budde)

 

Manifestações de desagrado, apelos ao bom senso, pronunciamentos críticos de cunho humanístico estrugiram, mundo afora, em consequência dos posicionamentos estremados e de gesto acintoso, registrados durante os históricos eventos que assinalaram a posse de Donald Trump como 46° presidente dos Estados Unidos. Líderes de projeção global, figuras eminentes da ciência e religião, pessoas de todas as camadas da sociedade humana não escondem sua apreensão, mais do que isso, seus temores, com relação aos efeitos que poderão advir dos atos e fatos anunciados.  

Amostra eloquente das reações eclodiu durante a tradicional cerimônia litúrgica ecumênica realizada no dia posterior à posse. Ganhou ressonância incomum, alcançando todos os quadrantes do planeta, o sermão da mais alta dignitária da Igreja Episcopal dos EUA, Bispa Mariann Edgar Budde, no comando da comunidade religiosa há 14 anos. Dirigindo-se a Trump, de forma serena e empregando termos vigorosos, ela expendeu considerações sobre o conceito evangélico da Misericórdia, pedindo para que as ações governamentais observem os valores humanísticos e espirituais que conferem dignidade à vida. Implorou proteção às pessoas que se mostram “assustadas” com o que está rolando: “Há crianças gays em famílias democratas, republicanas e independentes, algumas temem por suas vidas”. Além disso, ressaltou: “As pessoas que colhem nossas plantações e limpam nossos prédios, que trabalham em granjas avícolas e, frigoríficos, que lavam a louça depois de comermos em restaurantes e trabalham no turno da noite em hospitais, elas podem não ser cidadãos ou não ter a documentação adequada, mas a grande maioria não é criminosa”. Acrescentou: “Eu lhe peço que tenha misericórdia, senhor presidente, para com os filhos de nossa comunidade que temem que seus pais sejam levados embora” (...) “também peço que ajude aqueles que estão fugindo de zonas de guerra e perseguição em suas próprias terras e que aqui encontraram compaixão e acolhimento”.  Trump bem ao seu estilo atacou a religiosa de forma bastante grosseira.

Outra demonstração de desagrado proveio da interpelação judicial articulada por nada menos que 30 Estados da União e numerosos municípios importantes contra as medidas anunciadas.

Com a “saudação nazista” de Elon Musk, Trump comprou briga também na Europa. O Chanceler alemão condenou o gesto e foi chamado de “estúpido” pelo magnata da comunicação. Para agravar a história, o partido neonazista da Alemanha cumprimentou efusivamente o autor da insólita proeza. Alcançou destaque ainda a revelação de que Musk escreveu um artigo, recentemente, enaltecendo o movimento nazista. Não é preciso “bola de cristal” para adivinhar as encrencas a caminho...

 

Jornalista “cantonius1@yahoo.com.br”

Avalancha de decisões inquietantes

 


 

*Cesar Vanucci

“Tudo vai mudar a partir de agora, rapidamente!"(Donald Trump)

 

A expressão “incrível” foi utilizada mais de uma centena de vezes, pelo Presidente Donald Trump nos discursos que marcaram seu retorno à Casa Branca. Ou seja: Na sessão solene de investidura, no Capitólio e nos comícios aos apoiadores.  O emprego do vocábulo contemplou personagens e situações. O que andou contando em suas narrativas e andou falando sobre os planos de governo, gerando perspectivas perturbadoras, de modo a fomentar tensões no cenário geopolítico, pode ser perfeitamente definido como incrível. Incrível, surreal e inquietante.

Anotemos algumas dessas coisas “incríveis”. Trump sustenta a tese de que foi roubado na eleição perdida para Biden. Pretende rebatizar o Golfo do México, dando-lhe o nome de “Golfo da América”. Garantiu a retomada do Canal do Panamá. Assinou atos estabelecendo deportação em massa de milhões de imigrantes e vetando a cidadania a filhos de imigrantes nascidos no país. Decretou estado de emergência na fronteira com México. Prometeu reinvestigação nos casos de John Kennedy e Martin Luterking. Descreveu os EUA como sendo um país arrasado em franco declínio, acentuando que em seu governo voltará a ser a maior potencia do planeta. Concedeu perdão a 1500 partidários condenados pela invasão, com mortos e feridos, do Capitólio. Como se recorda o atentado foi por ele instigado, o que deu causa a processo judicial, agora suspenso em razão de ter sido eleito. Comunicou a retirada dos EUA do Acordo de Paris e da OMS. Decidiu abolir vários programas socioambientais. Definiu que não mais haverá incentivos para carros elétricos. Disse que o país vai promover, em alta escala exploração do petróleo, por ele chamado de “ouro liquido” tornando-se o maior produtor mundial, o que permitirá a reabertura de incontáveis frentes de trabalho, para cidadãos americanos. Afiançou que vão ser redefinidas as políticas relacionadas com a diversidade e gênero. Ocorrerão mudanças também nas áreas militar, do serviço público, educação e saúde. Informou que os produtos do Canadá e México serão sobretaxados, acrescentando que haver taxação de 100 por cento para países do BRICS, caso adotem moeda que substitua o dólar nas transações.   

O mundo inteiro, antenado nos acontecimentos vividos em Washington, tomou-se de pasmo diante da avalancha de decisões. A estupefação ficou ainda maior por conta de insólito gesto, não de Trump, mas de seu aliado recente, Elon Musk. À hora em que foi citado no discurso do chefe, o extravagante magnata subiu ao palco, perfilou-se, bateu a mão espalmada no peito e ergueu o braço em saudação estridentemente Nazista. Só faltou berrar “Heil Hitler”. Como é de se imaginar, dentro e fora dos EUA explodiram reações de inconformismo e indignação. Tema para mais considerações.

Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)

 

segunda-feira, 20 de janeiro de 2025

A Guerra acabou!?

 


 

*Cesar Vanucci

“Os Palestinos poderão olhar para o futuro sem o Hamas no poder.” (Joe Biden, na ultima fala presidencial.)

 

No apagar das luzes do governo Biden e no alvorecer do governo Trump, o mundo lê e ouve noticia ardentemente esperada: a guerra em Gaza acabou! Há quem, pertinentemente, indague: será que acabou mesmo? A trégua anunciada durará até quando? Acordos celebrados no passado, nessas intermináveis contendas que ensanguentam há décadas a Terra Santa, desembocaram em irremediáveis frustrações. Seja como for, trata-se de noticia auspiciosa. O cessar-fogo temporário firmado no Catar interrompe uma luta fratricida que exterminou milhares de vidas preciosas entre palestinos, quase 50 mil; israelitas, aproximadamente 2 mil; libaneses, presumivelmente mais de 2 mil; além de centenas de jornalistas , voluntários de ONGs e agentes de saúde da ONU, Cruz Vermelha e Médicos Sem Fronteiras. Nos 15 meses de duração do conflito, desencadeado a partir do ato terrorista do Hamas, mais de 200 cidadãos do Estado de Israel foram mantidos como reféns. Muitos deles foram mortos nos bombardeios. Gaza ficou reduzida a ruínas, por onde vagueiam sem rumo, desesperados, milhões de criaturas. O Líbano sofreu pesadas perdas, Israel foi atacado por foguetes e algumas escaramuças, com riscos de confronto mais sério, ocorreram entre Israel e Iran. Nesse meio tempo, traduzindo o horror que a guerra produz na consciência humana, a Corte Internacional de Haia expediu veredicto implacável contra as lideranças das partes contendoras, condenando dirigentes de Hamas e de Israel por crimes de lesa-humanidade.

 

2) Odisseia no espaço -  Muito além, pendurada na imensidão azul do céu, a estação espacial internacional movimenta-se a distância inalcançável pela visão humana. Dentro dela dois astronautas da NASA, um homem e uma mulher, aguardam ansiosos a chegada de uma nave que possa trazê-los, sãos e salvos, de volta à base em que teve inicio sua odisseia, que deveria ter sido concluída no prazo de uma semana. O que aconteceu ficou inteiramente fora do que tinha sido planejado. Imprevisível avaria nos instrumentos de navegação da nave espacial Starliner, da Boeing, inviabilizou o retorno de ambos por motivo de segurança. Desde junho passado, “intermináveis” dias transcorridos, os cosmonautas esperam pelo resgate, que poderá ocorrer, se tudo der certo, no mês de março vindouro. Mesmo sabendo que eles são cientistas altamente qualificados, técnica e emocionalmente para a aventura espacial vivida, pomo-nos a imaginar o quão angustiante não estará sendo o estado de espírito de Butch Wilmore e Suni Williams diante das noticias que lhes são, naturalmente, transmitidas a respeito dos preparativos, das providencias que cá embaixo vêm sendo febrilmente tomadas no sentido do tão aguardado resgate.

 

Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br )

A Democracia e as redes sociais

 

 

*Cesar Vanucci

 

“Não se pode aceitar discurso de ódio em nome da liberdade de expressão” (Antonio Luiz da Costa, educador).

 

Como se costuma dizer no linguajar digital, a “fala” de Fernando Haddad viralizou. Calculadamente 25 milhões de usuários das redes sociais “ouviram” o Ministro da Fazenda “anunciar” as taxas fiscais a “incidirem” sobre transações de valores pecuniários via Pix. A maldosa fake news – uma das muitas despejadas ininterruptamente nas plataformas - causou alvoroço e teve que ser, obviamente, desmentida. Oportuno anotar que a propagação de uma notícia falsa se processa velozmente. Em questão de minutos, alcança multidões, antes mesmo de ser refutada. Ainda assim, deixa no ar interrogações e controvérsias exploradas à exaustão pela má fé.

 Noutro ato delituoso quase que à mesma hora do episódio  relatado acima, algum irresponsável divulgou, tendo o público jovem como alvo, “instruções” sobre como participar de um “jogo recreativo” que consiste no cometimento de furtos em estabelecimentos comerciais, ludibriando os vendedores. A exibição dos objetos afanados garante aos “disputantes do jogo” pontuações e premiações...

As situações descritas são altamente emblemáticas. Escancaram a gravidade de uma questão momentosa que faz parte, compreensivelmente, das mais sentidas preocupações de tantos quanto se interessam pelo desenvolvimento humano e avanços civilizatórios. Na visão desfocada de muita gente, infiltrados no meio dela indivíduos de índole perversa e políticos de perfil anarquista, a Internet é um território sem lei. Um vasto faroeste sem mocinhos, nem xerifes. Um vale-tudo de amplitude universal que permite a prática de iniquidades, sem punições, concebidas nas sombras pérfidas do anonimato, afrontando as leis e até mesmo a soberania dos Estados democráticos. O anonimato digital, visto está, potencializa a crueldade dos discursos de ódio e de outras manifestações de cunho socialmente desagregador.

De tudo quanto exposto deflui a inarredável convicção da parte de educadores, sociólogos, pais, psicólogos, políticos e líderes comprometidos com a causa da paz e do bem estar coletivo, de que a internet e a Inteligência Artificial não podem prescindir de regulamentação. Ambas representam conquistas refulgentes do saber tecnológico e precisam ser colocadas a serviço da construção humanística. A liberdade de expressão, apanágio sagrado do regime democrático, não pode ser confundida, como querem ideólogos extremados, com extravagâncias libertinas no emprego da palavra e da imagem nas plataformas digitais.

E, por derradeiro, nesse bom combate pela regulamentação, travado mundialmente pelos verdadeiros democratas, não se pode perder de vista as ameaças que rondam a humanidade acerca da utilização do sistema de comunicação digital como instrumento de controle dos destinos de todos nós.

Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)

A que vem Trump?


 

*Cesar Vanucci

“Vou construir uma grande muralha em nossa fronteira.” (Donald Trump)

 

É indisfarçável a ansiedade com que se aguarda, no mundo inteiro, a posse de Donald Trump na presidência dos Estados Unidos.  Para a legião de partidários e admiradores, sua ascensão, pela segunda vez, ao cargo mais importante do cenário político internacional representa a chegada do “homem providencial”, capacitado para solucionar candentes questões da conturbada atualidade. Para os que discordam dessa retumbante avaliação,  a trajetória do antigo e agora futuro ocupante da Casa Branca produz incertezas, inquietações e, até mesmo, temores. No curso da campanha eleitoral, Trump comprometeu-se a promover a maior deportação em maça de imigrantes já mais vista. Receia-se que um ato dessa natureza possa provocar verdadeira convulsão social, criando litígios, por exemplo, com os vizinhos mexicanos. O sucessor de Biden safou-se, pelo menos por agora, de responder perante a Justiça de seu país pelo crime de incitação de correligionários ao ataque golpista contra o Capitólio, episódio gravíssimo, atentatório às instituições democráticas, que resultou em várias mortes e em sentenças elevadas. Tem-se como certo que fará de tudo para anistiar-se e anistiar seus fanáticos seguidores. Trump criou também expectativas quanto a decisões que ponham fim imediato às guerras no Oriente Médio e Ucrânia. Mas, paralelamente a essa disposição pacifista, andou propalando também a disposição de retomar, na marra, o Canal de Panamá, o que já gerou obviamente ruídos diplomáticos. Falou também em comprar a Groelândia, “boquirrotice” que rendeu compreensível manifestação de desagrado do governo da Dinamarca. Outra promessa de campanha vista com apreensão é a da sobretaxa a ser aplicada a produtos estrangeiros. Tudo isso vai dar ainda muito que falar. A posse, 20 de janeiro está próxima. Esperar pra ver.

 

2)Balburdia - A balbúrdia orçamentária tem que cessar. As determinações do Judiciário precisam ser respeitadas ao pé da letra, se choro nem vela.  Chegada a hora das lideranças do congresso entenderem que vem pegando muito mal, perante a opinião pública a chamada “farra das emendas”. Os artifícios, os subterfúgios, as burlas utilizados com o fito de chutar pra escanteio a transparência e rastreabilidade na aplicação das emendas parlamentares apequenam em muito a imagem do poder legislativo. Dão margem a especulações desairosas que provavelmente não refletem a realidade dos posicionamentos e intenções de todos os autores das propostas de gastos. No que diz respeito à atuação do STF na palpitante questão, faz-se pertinente uma observação: pela relevância que o caso se reveste, a acertada decisão que coloca um “freio de arrumação” na tramitação das emendas deveria ser tomada, não monocraticamente, mas pelo plenário.

 

Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)

O Grande avanço científico

 


 

*Cesar Vanucci

“Nunca estivemos tão próximos da vacina” (Hui Yang, cientista)

 

O ano da graça de 2024 está indo embora com o aceno de uma perspectiva científica bastante auspiciosa. A turbulência, de feitio diversificado, que domina habitualmente a cena cotidiana, gerando manchetes impactantes, concorreu para que passasse um tanto quanto desapercebida a boa-nova da iminência da erradicação de uma enfermidade que aflige milhões de seres humanos. “Lenacapavir”, desenvolvido pelo laboratório “Gilead Sciences”, é o nome do fármaco apontado como sendo 99,9 % eficaz na prevenção do vírus HIV e com quase igual eficiência no tratamento da Aids. Este remédio foi eleito o avanço científico de 2024 pela revista acadêmica Science. Está sendo considerado por especialistas um divisor de águas na prevenção ao vírus causador da Aids. Os pesquisadores consideram que a novidade é o mais próximo que chegamos de uma vacina contra essa infecção.

A propósito do palpitante tema, o Conselho Federal de Farmácia divulgou relevantes informações quanto à esperançosa possibilidade que se abre em futuro bem próximo, de eliminação da doença. Conforme relatado, o remédio será disponibilizado nos no mundo inteiro até o final de 2025. Hui Yang, chefe de operações de fornecimento do Fundo Global de Combate à AIDS, explica que o esquema de distribuição depende de vários fatores, incluindo a aprovação regulatória por órgãos como a FDA agencia reguladora dos Estados Unidos e a OMS.

O Lenacapavir já vem sendo utilizado em casos de AIDS resistentes a múltiplos medicamentos. Seu custo, até aqui é inacessíveis em se tratando de uma demanda global. Ensaios clínicos comprovaram sua eficácia na prevenção do vírus, o que levou a Gilead a buscar autorizações para esse novo uso em escala global. Ressaltou ainda ser fundamental evitar que países de baixa e média renda fiquem relegados a segundo plano no acesso ao medicamento, um problema de desigualdade que tem marcado a luta contra o HIV ao longo dos anos.

Para solucionar a questão do custo, o Fundo Global anunciou uma colaboração com o Pepfar, apoiado pelo Fundo de Investimento para Crianças e pela Fundação Bill e Melinda Gates. Essa parceria busca assegurar que o Lenacapavir esteja disponível a preços acessíveis desde o início. A meta é atender pelo menos dois milhões de pessoas nos primeiros três anos. Em outubro deste ano, a Gilead fechou acordos com seis fabricantes de genéricos para produzir e comercializar versões mais baratas do lenacapavir em 120 países de baixa e média renda.

Fica evidente, levando-se em conta a elevada significação desta descoberta científica, que a quebra de patente poderá se efetivar, mediante protocolos internacionais, objetivando o uso generalizado do remédio.

 

Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)

O Globo de Ouro e a celebração da vida

 


“Uma mega-sena acumulada. Surfei na onda de minha mãe.” (Fernanda Torres)

Em meio ao torvelinho da aventura humana, pausa convidativa para poder festejar a inteligência e a arte. Pausa com tudo aquilo que uma comemoração, ao jeito de conquista de Copa do mundo, possa abarcar. Ou seja: aplausos ensurdecedores, brados de “viva”, charanga musical, batucada, estouro de champanhe e por aí vai.

A conquista do Globo de Ouro pela atriz Fernanda Torres, graças ao seu extraordinário desempenho em “Ainda estou aqui”, obra prima do consagrado cineasta Walter Salles, confere visibilidade solar à cultura efervescente que emerge das manifestações artísticas, nas mais variadas modalidades da gente brasileira. Além de disputar a láurea com algumas das mais famosas estrelas do cinema internacional, Nanda teve que superar outro obstáculo que se afigurava à primeira vista intransponível. Seu filme era o único falado em português, idioma com qual a grande maioria dos jurados não estava certeiramente, familiarizada. Esbanjou talento para chegar lá. Garantiu condição propicia, segundo a mídia e critica, para bisar o feito e trazer na bagagem em seu retorno, o cobiçado “Oscar”. Torcida não vai faltar.

A Fernanda Torres aplica-se, impecavelmente, a emblemática expressão “Tal mãe, tal filha”. Melhor ainda: “Tais pais, tal filha”. Ela despertou bem cedo para a ribalta. Encontrou em casa, no pai Fernando Torres e na mãe Fernanda Montenegro, primeira dama do teatro brasileiro, que há vinte e cinco anos atrás, por pouco não obteve o “Globo de ouro”, todo incentivo necessários para carreira cintilante que abraçou, vivendo papéis marcantes, no drama e na comédia, na televisão, no teatro, no cinema.

Falemos agora do filme. Um colosso de coisas a dizer, os louvores que vêm arrancando das plateias são mais que justificados. Direção, elenco e produção técnica impecáveis asseguram grandiosidade a uma narrativa humanística, aplicada a uma tragédia real ocorrida em tempos obscurantistas na vida brasileira. O “desaparecimento” de Rubens Paiva, humanista, parlamentar, torturado e morto durante os “anos de chumbo”, foi contado em livro, lido por milhares de pessoas, de autoria de seu filho Marcelo Paiva. Walter Salles resolveu projetar nas telas a dolorida historia. Fê-lo de forma magistral. Deu dimensão universal ao chocante e estarrecedor caso. Tornou conhecida, em enorme amplitude, a figura estoica de Eunice, esposa de Rubens, em sua indômita e obstinada luta pelos direitos humanos e contra os desmandos do totalitarismo. A fusão da personagem com a intérprete reveste-se de toque poético arrebatante. O filme convida o expectador a uma reflexão sobre esse dom precioso que é a vida. Repele implacavelmente as odientas ações humanas que insistem em amesquinhá-la. Promove o resgate democrático da História. Celebra os valores que tornam a vida digna de ser vivida.

Jornalista Cesar Vanucci

Surto de ameaças explícitas

 


 

*Cesar Vanucci

“A Groelândia não está à venda”(Governo da Dinamarca)

 

 

Tudo muito perturbador. A saraivada de ameaças explícitas feitas por Donald Trump, restando poucos dias para sua posse como presidente, desencadeou reações de inquietação e perplexidade, elevando o grau das tensões mundo afora. Depois de haver reafirmado, em tom esbravejante, a intenção de levar a cabo as promessas de campanha acerca da deportação em massa de imigrantes e da aplicação de sobretaxas nos produtos importados, ele vem agora com uma penca de “novidades” que despertam constrangimentos e temores. Vamos lá: mostra-se disposto a tomar o Canal do Panamá; pretende apossar-se da Groelândia, onde os EUA já possuem base militar; sugere que o Canadá figure no atlas como uma província estadunidense, chegando até a exibir na televisão – como fez Maduro com relação a Guiana – mapa com o território canadense já incorporado; propõe que o Golfo do México seja rebatizado, passando a chamar-se “Golfo da América”. Como não poderia deixar de ser, as estapafúrdias propostas produziram ruidosos protestos e desagrados. A Dinamarca disse que a Groelândia não está à venda. O governo do Panamá disse que o Canal é propriedade de seu povo, muito cioso de sua soberania. Canadá e o México consideraram impertinentes e bizarros os anúncios do futuro ocupante da Casa Branca. Outros países, com destaque para o continente europeu, deploraram as falas, enfatizando o respeito que deve sempre prevalecer nas relações internacionais. Ouve quem classificasse as questões afloradas  fruto de bravatices indesculpáveis.

Como protagonistas, noutra vertente de ações vistas como ameaças explícitas a paz, direitos fundamentais e, também, soberania das Nações, colocam-se alguns magnatas da comunicação, todos eles, por sinal, vinculados a Trump nos planos político e econômico. Estamos falando dos dirigentes das principais plataformas digitais com atuação em todas as partes do planeta. Eles acabam de transmitir às multidões que utilizam seus serviços o malsinado propósito de reduzir substancialmente, senão eliminar totalmente, os controles prévios sobre os conteúdos propagados em redes sociais. No “duro da batatolina”, como se dizia em tempos de antanho, o que querem mesmo é promover “um liberar geral” para todo tipo de mensagens e registros de interesse da clientela. Noutras palavras: nada de regras sobre as falas e fotos; nada de regulamentações.  Os donos das maiores fortuna do globo, alguns deles acumulando valores superiores a PIBs dos países, almejam que seus fabulosos negócios exerçam um controle social e político sem limites. Paralelamente a isso desejam que os EUA protejam seus “interesses” contra legislações que queiram regulamentar suas atividades nos países em que operem. O tema comporta mais considerações.

 

     Jornalista(cantonius1@yahoo.com.br)

 

A SAGA LANDELL MOURA

“Ainda estou aqui” chegou lá.

  O filme é a Eunice Paiva (Fernanda Torres)   O Brasil da amorosidade, da sensibilidade social e da vocação democrática apostou na ...