segunda-feira, 10 de março de 2025

“Ainda estou aqui” chegou lá.

 



O filme é a Eunice Paiva (Fernanda Torres)

 

O Brasil da amorosidade, da sensibilidade social e da vocação democrática apostou na premiação todas as fichas de sua inesgotável esperança. Deu certo. O “Ainda estou aqui” chegou lá. O cobiçado Oscar, como melhor filme estrangeiro, juntou-se a outros reluzentes troféus já conquistados pelo esplêndido filme de Walter Salles em outros famosos centros mundiais da consagração cinematográfica. Entre eles “O Globo de Ouro” de melhor atriz arrebatado pela magnífica Fernanda Torres.

Marco épico no plano artístico cultural, o filme tornou-se também referência histórica maiúscula na vida política e democrática brasileira. A mensagem poderosa que dele deflui é de clareza solar: “Ditadura nunca Mais!” Ganha sonoridade especial nos dias que correm, quando a Justiça se prepara, debaixo do olhar atento da Nação, para emitir  veredicto acerca  da participação da cúpula sediciosa na trama que colocou sob risco as sagradas instituições democráticas e republicanas.

A ovação popular que se seguiu, de norte a sul, de leste a oeste do país, à proclamação em Hollywood do premio atribuído, pela vez primeira a uma obra de arte fílmica, inspirada em historia real narrada num livro brasileiro, protagonizada e dirigida por brasileiros e falada em nosso idioma foi de deslumbramento indescritível. A maior festa das ruas em todo o mundo, ou seja, o carnaval brasileiro elevou ao zênite o entusiasmo das pessoas já envolvidas, solidariamente nos frenéticos folguedos. A vibração alcançou também os que solitariamente optaram pelo recolhimento durante o período momesco. Alguns poucos elementos da atividade política preferiram guardar silêncio envergonhado com relação ao grande feito cultural, fazendo prova com tal procedimento de indigência cívica e intelectual.

Aplaudido pela critica e pelo público em milhares de salas de projeção onde vem sendo exibido, em dezenas de países, o longa metragem ganhador da estatueta dourada é visto como uma saga dos tempos modernos, por onde se projeta o anseio generoso dos homens e mulheres de boa vontade, dos humanistas, dos democratas, em prol das liberdades e dos direitos fundamentais. O drama existencial vivido pela família Paiva, heroicamente conduzida por Eunice Paiva e contado no excelente livro escrito por Marcelo, filho do deputado “desaparecido”, ajuda a gente a entender o significado da celebre frase proferida pelo saudoso Ulysses Guimarães na promulgação da constituição que nos rege: “Eu tenho nojo da ditadura”.

Por derradeiro, aqui vai registro que soará, certeiramente, como novidade para grande maioria das pessoas. Há 80 anos, em 1945, nosso maior compositor musical, Ary Barroso, produziu “Brasil”, primeiro filme a concorrer ao Oscar.

 

 Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)

O método Trump



 

                 “É loucura, mas há um método.” (Shakespeare).

 


Anos atrás, ainda no primeiro mandato, o órgão de classe dos psiquiatras, nos EUA emitiu parecer questionando a condição mental do Presidente. Seus ditos e feitos, monopolizando manchetes e produzindo tensões, contribuem em muito para que a opinião pública aceite como veraz o diagnóstico.

Atropelando leis, rasgando tratados, desfazendo regras instituídas ou estimuladas pelos próprios EUA, nas relações multilaterais Trump apresenta-se ao olhar mundial, de repente, como “providencial arauto” de “ideias novas”, todas resvalando o absurdo. Manifesta interesse em comprar a Groelândia, anexar o Canadá, tomar o Canal do Pananá, deportar 10 milhões de imigrantes, encarcerando parte deles em Guantanamo e em presídio de El Salvador. Não se dando por satisfeito, anuncia a retirada, na força bruta, se não puder ser “espontânea”, de 2 milhões de palestinos radicados nos escombros de Gaza, alojando-os na Jordânia e Egito, apesar, dos dois países se recusarem peremptoriamente, mesmo sob ameaças de represálias, a participar do medonho êxodo. Aponta duas alternativas como “solução” da questão do território palestino: a) transformar-se em Riviera do Oriente Médio; b) tornar-se uma sucursal do inferno. Diz isso sem atentar para as circunstâncias de que os palestinos já conhecem de sobra o que seja viver uma experiência infernal. Deixa expresso que o território pertencente aos palestinos não será comprado, mas sim tomado na marra.

As manifestações de desagrado pelo que está rolando avolumam-se. Além obviamente dos ruídos produzidos nos circuitos diplomáticos, vêm ocorrendo outras reações, até outro dia impensáveis, em ambientes que sempre mostraram receptividade simpática ao povo, cultura e costumes estadunidenses. Caso, por exemplo, dos canadenses, que pregam boicote aos produtos do vizinho país e substituem aplausos por vaias, em competições esportivas quando o hino dos Estados Unidos é executado.

E o que não dizer da onda de questionamentos levados à apreciação da justiça por cidadãos e organizações de seu próprio país?  

Desrespeitando acordos comerciais de longa data consolidados, desestabilizando a Organização Mundial do Comércio (OMC), os gravames fiscais impostos a fornecedores de produtos carreados ao mercado de consumo de seu país, as políticas de comércio exterior colocadas em prática pelo ocupante da Casa Branca afetam o Brasil, como de resto, praticamente todos os países que fazem parte do sistema de intercâmbio negocial.

Analistas da conjuntura mundial apontam como fatores influenciáveis das decisões criticadas, o chauvinismo medular presente na orientação politica do presidente e as circunstâncias da China haver atingido superávit recorde de quase 1 trilhão de dólares na balança comercial, enquanto os Estados Unidos amargaram déficit quase equivalente em suas transações comerciais.

Jornalista Cesar Vanucci

 

Estarrecimento e indignação

 

  “Vejo o inquérito da trama golpista como um dos mais graves da história da Corte”

(Ministro Gilmar Mendes.)  ]



 

O ex-presidente Jair Messias Bolsonaro declarou-se “estarrecido” e “indignado” com as acusações feitas pela Procuradoria Geral da Republica apontando-o como chefão das articulações do grupo engajado na trama golpista. As expressões utilizadas são exatamente - por sinal as mais brandas - empregadas nas ruas e lares como tradução do sentimento nacional, diante da nefanda tentativa de ruptura democrática capitaneada pelo ex-chefe do governo.

O descomunal conjunto de provas coletadas pela Policia Federal e já apreciadas no âmbito da PGR configuram, sem a mais pálida sombra de dúvida, uma ação premeditada, calculada em todas assustadoras minudencias, com o inequívoco intuito de profanar a legitimidade de uma eleição democrática e mergulhar o país nas trevas do autoritarismo.

A delação do ajudante de ordens, os categóricos depoimentos dos comandantes do Exercito e Força Aérea, os vídeos, os áudios, as mensagens e diálogos resgatados dos celulares apreendidos, as reuniões gravadas, as minutas de atos executivos instaurando o caos  e por aí vai, tudo no processo deixa à mostra com clareza solar as digitais e as pegadas dos integrantes do clã Palaciano, na torpe arregimentação sediciosa.   

No arrazoado do Procurador Geral incriminando Bolsonaro e outras trinta e três pessoas, entre elas Braga Neto, Vice na chapa derrotada em 2022, são acusados pelos crimes de golpe de Estado, abolição violenta do Estado Democrático de Direito e formação de quadrilha.  Outra acusação grave imputado ao ex-presidente e companheiros diz respeito ao monitoramento do Presidente Lula, Vice-Presidente Alckmin e Ministro Alexandre de Moraes, do STF, dentro de um plano diabólico, denominado “Punhal verde amarelo” que tinha sob mira o assassinato de todos eles.

A alentada peça acusatória revela como se processou, passo a passo, ao longo de vários meses, o encadeamento dos episódios relevantes que compuseram o enredo do complô contra as instituições republicanas. Os dramáticos eventos do “8 de janeiro”, juntamente com as manifestações nas imediações dos quartéis, arruaças e atentados em Brasília, obstrução de rodovias, agressões e intimidações via internet e outros meios constituíram  lances perturbadores orquestrados pelo ativo núcleo operacional comprometido com a derrubada do regime. O importante papel desempenhado pelo autocomando Militar na conjuntura política da época é ressaltado pela PGR e PF como fundamental no sentido da abortagem da sinistra conspiração que se achava em andamento.

 

Caberá agora ao STF avaliar e julgar os fatos. A Democracia sai fortalecida desta história. O sentimento Nacional repele toda e qualquer ameaça contra os direitos fundamentais.

Jornalista(cantonius1@yahoo.com.br)

Mundo de pernas para o ar

  

. “Eu comprei este carro antes de Elon Musk enlouquecer” (Proprietários de veículos da Tesla na Alemanha)

 




O repertorio de “novidades impactantes” de Trump é mesmo inesgotável. Cá estão algumas das mais recentes.  

O Presidente conduziu negociação com o “Tzar” Vladmir Putin dizendo que iria por fim na guerra da Ucrânia. Desprezou velhos aliados da OTAN, bem como o dirigente ucraniano Zelensky, o que causou estupefação nos círculos diplomáticos e no seio da opinião pública internacional. O surpreendente gesto de aproximação com o Presidente russo foi acompanhado do levantamento de sanções impostas pelos EUA a Moscou em razão da tão criticada invasão. A incontinência verbal e arrogância imperial de Trump levaram-no a dizer – vejam só! - que Zelensky provocou o conflito e não passa de um político irrelevante, ditador refratário a eleições. A situação fica mais atordoante quando se toma ciência de que o “acordo”, à revelia dos ucranianos e dos europeus prevê a posse pela Rússia das terras ocupadas na marra. Isto corresponde a quase 25 por cento da área total do país invadido. Tem mais; Trump mandou dizer ao presidente da Ucrânia que aceite os termos ou se prepare para perder o país. Por incrível que pareça, foi ainda mais longe: exige do governo de Kiev, como compensação pelo “acordo de paz” proposto, nada mais, nada menos que a outorga do direito de exploração de suas jazidas minerais raras pelos EUA. Emprega outro “argumento poderoso” mirando as riquezas do subsolo ucraniano: a ajuda de quase 200 bilhões de dólares destinada durante o governo Biden ao esforço de guerra do governo da Ucrânia.

Na data que marcou o terceiro ano da presença das tropas Russas no território vizinho, Zelensky declarou que estaria disposto a deixar o cargo, desde que fosse assegurada a entrada de seu país na OTAN. A Casa Branca discorda da proposta. Quer na realidade a rendição incondicional da nação agredida.

 Noutra frente da turbilhonante atuação do Governo Trump, seu vice J.D. Vance, em giro recente por países europeus, criticou causticamente os aliados do “Velho Mundo” pela atitude de isolarem o partido extremista alemão que tenta ressuscitar teorias nazistas. Foi rebatido veementemente pelas lideranças europeias. O gesto do vice coincidiu com duas outras manifestações chocantes, condenadas pelas mesmas lideranças e por democratas nos Estados Unidos e outras partes do mundo. Assessor de Donald Trump, num encontro de dirigentes ultraconservadores ergueu o braço duas vezes em inequívoca saudação hitlerista. Elon Musk, a seu turno, apoiou abertamente a campanha dos extremistas alemães, no pleito recém-findo. Por tal motivo, nas ruas das cidades alemãs carros da marca Tesla circulam com dísticos afixados nos para-brisas contendo os seguintes dizeres: “Eu comprei antes de Musk enlouquecer.” O mundo está mesmo de pernas pro ar. E vem mais coisa por aí...

Jornalista (cantonius1@yahho.com.br)

Pororoca de atos despropositados

 


“Conversando é que a gente se entende.” (Ditado popular).

Trump foi eleito presidente, não Imperador.

Podendo muito, não pode, todavia, tudo. Não pode se arvorar de poderes imperiais na condução dos negócios da grande nação, potência democrática, política e econômica universalmente admirada. A pororoca de decisões tomadas, abalando a convivência entre países, alterando abruptamente regras consolidadas nas relações diplomáticas, vem produzindo desassossego em demasia. A ordem institucional na cena mundial carece ser aprimorada, não debilitada. O momento recomenda diálogos, não monólogos. Conversando é que a gente se entende.

Do volumoso conjunto de ações causadoras de espanto, observadas nos domínios da Casa Branca destacamos aqui mais este fato. A “revista Time” estampou na capa Elon Musk sentado na mesa presidencial do salão oval, insinuando que o magnata compartilha o poder com Trump. Elon comentou, pateticamente, que “amo Donald tanto quanto um heterosexual consegue amar outro homem”.

Enquanto isso aviões despejam deportados em Guantanamo, temível ilha presídio localizada em Cuba, administrada pelos EUA.

Acredite, se quiser.

A sensação de muita gente é de que o mundo está de pernas pro ar. Coisas estranhas continuam pintando no pedaço, como se costuma dizer no tagarelar das ruas. Reunimos abaixo “quentes” amostras.

1 - Autoridades do setor de saúde investigam um hospital de São Paulo voltado para assistência filantrópica, devido à denúncia de que estão sendo utilizadas ali, em intervenções ortopédicas, “furadeiras domésticas”. A chocante revelação não esclarece se, além da “furadeira”, os profissionais de saúde do estabelecimento não estariam empregando também, nos procedimentos, martelos, pregos e serrotes...

2 – Dona de casa, no café matinal servido a familiares, encontrou na massa do pão de forma uma bala de fuzil. Narrando o sucedido para um grupo de conhecidos indagamos se eles saberiam apontar a cidade em que a insólita cena ocorreu. Todos, “sem titubeios,” responderam a uma só voz: - Rio de Janeiro!

3 - O grupo - tarefa coordenado pelo Ministério Publico e Corregedoria da Policia de São Paulo fez visita de surpresa ao presidio da Policia Civil do Estado, onde se acham recolhidos 100 elementos da chamada “Banda podre” da instituição. Na cela de dois agentes acusados de envolvimento na cilada que assassinou, no aeroporto de Guarulhos, o delator das tramas criminosas do PCC, deparou-se com duas dezenas de celulares, além de sofisticado aparato eletrônico para comunicações externas.

4 – Os integrantes do  Ministério Público de São Paulo acabam de ser contemplados com benefício especial que garante, a muitos deles, holerites complementares da ordem de Um milhão de reais. Essa grana toda, provém de “vantagens” auferidas com retroatividade à década passada. A imprensa estima que o generoso “prêmio por serviços prestados”, favorecendo quase 2 mil servidores, possa alcançar a altitude "everestiana” de um bilhão.

Dá “procês”?

  Jornalista Cesar Vanucci

 

Conveniências geopolíticas equivocadas


“Trump pretende fazer de Gaza uma nova Riviera.” (Dos jornais)

Deu a louca nos domínios geopolíticos. A temporada de absurdidades instaurada com o retorno de Donald Trump ao poder ganha impetuosidade crescente, enchendo o mundo de temores.

Em recentes comentários já alinhamos alguns lances estapafúrdios, incluídos no rol das decisões adotadas pela Casa Branca. Acrescentamos, agora, outras medidas tão ou mais perturbadoras até, estridentemente anunciadas que estão causando compreensível sobressalto no seio da opinião pública. Recepcionando o primeiro Ministro de Israel Benjamin Netanyahu, Trump declarou-se propenso a ocupar Gaza, desalojando as multidões de palestinos que ali sobrevivem. A “limpeza” abrangeria o deslocamento da população para outras áreas, em outros países. A “luminosa” ideia foi compartilhada com entusiasmo pelo dirigente israelense, mas foi repelida com veemência em todas as partes do planeta, a começar pelos países árabes. Egito e Jordânia deram categórico “não” à proposição. A Arábia afirmou que não manterá relações diplomáticas com Israel caso a proposta vingue. Aditou ainda o propósito de só se aproximar de Telavive depois da implantação de um Estado da Palestina soberano em Gaza e Cisjordânia. A França, a Inglaterra e demais países europeus também registraram seu desacordo, sustentando que a propalada reconfiguração de Gaza equivale a uma diáspora incompatível com as leis internacionais e a Declaração dos direitos fundamentais da ONU.

Agravando ainda mais a situação o governo de Israel deixou claramente explicito que o melhor a fazer na crise do Oriente Médio é afastar de vez a ideia da criação do Estado da Palestina. É de se ver que tal posicionamento colide em cheio com o sentimento universal. O Estado da Palestina é apontado por todos, em todas as esferas do pensamento evoluído, como a solução ideal para se por fim aos conflitos ininterruptos que tantos males causam a israelenses, palestinos, libaneses, gente de outras nações que povoam o território sagrado em que se localiza a fonte matricial das correntes religiosas do Deus único. 

Descabida e inoportuna, a ideia de se fazer de uma Gaza esvaziada de palestinos uma nova Riviera, em razão das belezas naturais de sua orla marítima, não ajuda em nada a causa da paz. Muito antes, pelo contrário. O assunto suscita, como visto, discordância global. De outra parte, brotam da conjuntura nascida da manifestação do presidente do país mais poderoso do mundo, receios de que os esforços pela sensação de hostilidade em Gaza possam ser afetados. O desafogo pela trégua arduamente conquistada, o alívio pela libertação dos reféns, a esperança ardente, a partir daí, de uma paz definitiva favorecendo a convivência fraterna de judeus e palestinos não podem ser alvejados por conveniências geopolíticas equivocadas.

Jornalista Cesar Vanucci

A SAGA LANDELL MOURA

“Ainda estou aqui” chegou lá.

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