segunda-feira, 10 de março de 2025

Conveniências geopolíticas equivocadas


“Trump pretende fazer de Gaza uma nova Riviera.” (Dos jornais)

Deu a louca nos domínios geopolíticos. A temporada de absurdidades instaurada com o retorno de Donald Trump ao poder ganha impetuosidade crescente, enchendo o mundo de temores.

Em recentes comentários já alinhamos alguns lances estapafúrdios, incluídos no rol das decisões adotadas pela Casa Branca. Acrescentamos, agora, outras medidas tão ou mais perturbadoras até, estridentemente anunciadas que estão causando compreensível sobressalto no seio da opinião pública. Recepcionando o primeiro Ministro de Israel Benjamin Netanyahu, Trump declarou-se propenso a ocupar Gaza, desalojando as multidões de palestinos que ali sobrevivem. A “limpeza” abrangeria o deslocamento da população para outras áreas, em outros países. A “luminosa” ideia foi compartilhada com entusiasmo pelo dirigente israelense, mas foi repelida com veemência em todas as partes do planeta, a começar pelos países árabes. Egito e Jordânia deram categórico “não” à proposição. A Arábia afirmou que não manterá relações diplomáticas com Israel caso a proposta vingue. Aditou ainda o propósito de só se aproximar de Telavive depois da implantação de um Estado da Palestina soberano em Gaza e Cisjordânia. A França, a Inglaterra e demais países europeus também registraram seu desacordo, sustentando que a propalada reconfiguração de Gaza equivale a uma diáspora incompatível com as leis internacionais e a Declaração dos direitos fundamentais da ONU.

Agravando ainda mais a situação o governo de Israel deixou claramente explicito que o melhor a fazer na crise do Oriente Médio é afastar de vez a ideia da criação do Estado da Palestina. É de se ver que tal posicionamento colide em cheio com o sentimento universal. O Estado da Palestina é apontado por todos, em todas as esferas do pensamento evoluído, como a solução ideal para se por fim aos conflitos ininterruptos que tantos males causam a israelenses, palestinos, libaneses, gente de outras nações que povoam o território sagrado em que se localiza a fonte matricial das correntes religiosas do Deus único. 

Descabida e inoportuna, a ideia de se fazer de uma Gaza esvaziada de palestinos uma nova Riviera, em razão das belezas naturais de sua orla marítima, não ajuda em nada a causa da paz. Muito antes, pelo contrário. O assunto suscita, como visto, discordância global. De outra parte, brotam da conjuntura nascida da manifestação do presidente do país mais poderoso do mundo, receios de que os esforços pela sensação de hostilidade em Gaza possam ser afetados. O desafogo pela trégua arduamente conquistada, o alívio pela libertação dos reféns, a esperança ardente, a partir daí, de uma paz definitiva favorecendo a convivência fraterna de judeus e palestinos não podem ser alvejados por conveniências geopolíticas equivocadas.

Jornalista Cesar Vanucci

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