quinta-feira, 24 de abril de 2025

Internet e liberdade de expressão

 


 
  *Cear Vanucci


“Por suposto respeito à privacidade, adolescentes estão morrendo ou cometendo crimes” (Rute Pina, da BBC)

 


As todo poderosas plataformas digitais, de propriedade de magnatas via de regra petulantes, opõem-se tenazmente à regulamentação dos conteúdos propagados. No caso brasileiro, encontram forte e irrestrito apoio de setores políticos fundamentalistas, vários deles com notória e frenética atuação na “indústria de fake news.” Alegam, levianamente, que o regramento violenta a liberdade de expressão. Confundem propositadamente a livre manifestação de ideias, apanágio democrático inalienável, com libertinagem em matéria de palavras e imagens a serviço da animosidade e do ódio.

 O entendimento das redes sociais colide frontalmente com o pensamento dos democratas autênticos, com o sentimento das camadas mais lúcidas da sociedade, que enxergam na regulamentação um instrumento valioso e indispensável em favor da preservação dos direitos humanos fundamentais. Posto que a internet não é território aberto para a prática de felonias verbais e imagéticas, faz-se oportuno o registro, sempre que possível, de exemplos contundentes dos malefícios incontáveis que o uso desabrido da prodigiosa invenção é capaz de acarretar.

Ainda agora, a Polícia Federal vem de desbaratar apavorante esquema de comunicação distorcida envolvendo nossas crianças e adolescentes. O delito cibernético consistia no seguinte: adolescentes desavisados eram orientados no sentido de executar atos de tortura, mutilação, aspiração de substancias toxicas até a perda dos sentidos ou a própria morte. Além disso, tornavam-se gratuitos expectadores de  cenas explicitas de pedofilia. Entre outros flagrantes captados nas investigações foram mostradas sevícias infligidas a bebes, animais domésticos, automutilações, tudo comandado à distancia por indivíduos de mente pervertida. A crueldade chegou a limites inimagináveis com a divulgação ao vivo de lances piromaníacos, onde bando de rapazes ateava fogo em moradores de rua, descrevendo sadicamente detalhes do atentado cometido.

Positivamente, não dá pra aceitar como uma pessoa na posse de suas faculdades mentais ouse assumir posição contrária à regulamentação das atividades das plataformas digitais diante de tamanha selvageria. Só mesmo a má fé, associada à demência, pode levar alguém a admitir como afronta à liberdade de expressão a proibição cabal a que a internet seja utilizada como teatro permanente de coisas horripilantes.

E não podemos nos olvidar de que os fatos acima narrados representam apenas uma das inumeráveis facetas dos crimes diuturnamente perpetrados à falta de ações jurídico-legais que defendam a sociedade, as famílias, os jovens e as crianças das agressões contra a dignidade humana assumidas em consequência do desvirtuamento de uma conquista tecnológica de tão alto significado civilizatório.

Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)

 

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