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sexta-feira, 25 de janeiro de 2019


Com a palavra o biógrafo de Landell

Cesar Vanucci

“Padre Landell foi pioneiro mundial na radiofonia.”
(Hamilton Almeida, biógrafo)

O jornalista e escritor Hamilton Almeida é o autor do livro “Padre Landell de Moura – um herói sem glória”. De leitura envolvente, texto primoroso escorado em pesquisa aprofundada, a obra é prefaciada pelo cientista Ronaldo Rogério de Freitas Mourão. Depois de exaltar o biógrafo pela “proeza difícil”, Mourão define o trabalho como a mais completa documentação e a mais valiosa biografia já feita a respeito do padre gaúcho inventor do radio, da televisão e do teletipo.

Do aclamado biógrafo recebo, com compreensível satisfação, um exemplar do livro e uma simpática mensagem. Reproduzo a mensagem: “Caro Cesar, muito interessante e VALIOSA      (assim mesmo, em caixa alta) a série de artigos que você escreveu. É, sem dúvida, uma excelente contribuição para a divulgação dos fantásticos feitos do padre Landell de Moura. Parabéns pela iniciativa! Estamos juntos nesta causa!” Após  referir-se aos artigos publicados no DC, Hamilton Almeida faz comentário que tomo a liberdade de reproduzir na sequência. Reputo da maior importância as considerações alinhadas, tendo em vista a qualificada procedência. Ao ilustre leitor são transmitidas informações que permitem conhecimento ainda mais completo e preciso da fascinante saga do genial padre-inventor, nosso injustiçado e esquecido patrício Roberto Landell de Moura. Suas as palavras abaixo.

Natural de Porto Alegre, Roberto Landell de Moura, o Padre Landell (21/1/1861 – 30/6/1928), foi precursor do rádio, da televisão e do teletipo, entre outras notáveis descobertas na área de telecomunicações. Foi ele quem transmitiu, pela primeira vez no mundo, no final do século XIX (com registros da imprensa em 1899 e 1900), a voz humana à distância através de uma onda eletromagnética, em experiências realizadas na cidade de São Paulo, entre a Avenida Paulista e o alto de Santana, numa distância de oito quilômetros. Assim nasceu o rádio.
Tal fato aconteceu antes das transmissões de voz humana do canadense Reginald Fessenden (dezembro de 1900) e do italiano Guglielmo Marconi (1914).  Também há indicativos de que Padre Landell realizou experiências de comunicação sem fio entre os anos de 1893 e 1894, o que teria acontecido antes da experiência pioneira de Marconi, em 1895.
É importante frisar que Marconi tornou-se célebre pela transmissão de sinais telegráficos (em Código Morse) à distância, sem fios, ou seja, a radiotelegrafia. Padre Landell foi mais longe, pois, além de sinais, seus aparelhos transmitiam a voz humana e sons musicais. Ele foi, portanto, o pioneiro mundial na chamada radiofonia.
Patenteou os inventos no Brasil e nos EUA e realizou experimentos. Mesmo assim, não foi reconhecido em sua época. Quis unir a religião à ciência e acabou acusado de ter pacto com o diabo. Os seus aparelhos chegaram a ser destruídos e ele foi forçado a abandonar os estudos científicos. Apesar da evidente genialidade, não recebeu apoio de ninguém, foi ignorado e perseguido.
Padre Landell aperfeiçoou o sistema de telegrafia sem fio existente na época e transmitiu pela primeira vez no mundo em ondas contínuas, que eram superiores às ondas amortecidas utilizadas nos primeiros tempos das radiocomunicações por outros cientistas. Também recomendou o emprego das ondas curtas para aumentar a distâncias das transmissões, quando elas não eram sequer cogitadas pelos outros cientistas. Para a transmissão de mensagens, o padre-cientista também se utilizava da luz, o mesmo princípio que aperfeiçoou as comunicações modernas, empregando-se o laser e as fibras ópticas.
Numa época em que as telecomunicações eram precárias até mesmo entre cidades vizinhas, ele já acreditava na possibilidade das comunicações interplanetárias. Projetou a televisão e o teletipo em 1904, décadas antes das invenções oficiais. Também descobriu e fotografou a aura humana, décadas antes dos soviéticos.
Padre Landell morreu no anonimato e sua obra até hoje é pouco conhecida. Com o tempo, as suas invenções acabaram sendo inventadas por outros cientistas. Na história oficial, o mérito da descoberta do rádio é concedido ao italiano Guglielmo Marconi. É um equívoco: ele inventou o telégrafo sem fio e não o rádio tal como o conhecemos.
A história do Padre Landell derruba este e outros mitos da história das telecomunicações.


sexta-feira, 11 de janeiro de 2019


Um homem adiante do seu tempo


Cesar Vanucci

“Cabe ao padre Landell toda a glória da invenção.”
(Registro de jornal sobre a transmissão pioneira de som num aparelho sem fio)

A trajetória percorrida pelo padre Landell Moura em sua peregrinação pela pátria terrena é recheada de referências cintilantes. Há um acervo muito precioso de feitos científicos e de manifestações de exaltação do espírito humano, provindos de seu talento criativo e capacidade empreendedora, com mira na evolução civilizatória. Esse brasileiro genial, já revelamos aqui, foi a primeira pessoa a fotografar a aura humana. Mas a sua participação foi muito além. Suas marcas digitais acham-se impressas na ciência, tecnologia, psicologia, pesquisas de fenômenos transcendentes inexplicáveis à luz do conhecimento consolidado na época em que viveu. É o que mostra farta documentação coletada pelo Núcleo de Pesquisas e Estudos Landell de Moura, pelo Movimento e Memorial batizados com o seu nome, pelo Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul. Numerosos trabalhos desenvolvidos por pesquisadores e historiadores, notadamente gaúchos, reforçam a tese. Mesmo assim, à falta de alarde maior de suas portentosas realizações, como seria justo almejar, a história desse notável personagem permanece ainda, para a maioria de seus compatriotas, envolta nas brumas do esquecimento. E um tanto quanto ignorada pelo resto do mundo.

Landell Moura é apontado, por figuras de alta qualificação na área da telecomunicação, como pioneiro nos experimentos que abriram caminho para a transmissão de sons e sinais telegráficos sem fio por meio de ondas eletromagnéticas. Há quem admita ter sido ele o primeiro, entre os inventores, a acenar com o surgimento do telefone e do rádio. De seus registros biográficos consta que ele realizou testes muito bem sucedidos em ambas as modalidades de transmissão a partir de 1893. Enfrentando dificuldades técnicas e financeiras para movimentar as pesquisas, confrontando tenaz resistência e cáustica incredulidade por parte das autoridades, opinião pública e superiores eclesiásticos, o padre-inventor conseguiu mesmo assim conceber aparelhos emissores de sons e sinais. Elaborou também inúmeros projetos classificados por gente do ramo como inéditos na projeção de imagens. O fato remete à admissão do caráter precursor de suas intervenções nos fascinantes domínios da televisão e fibras óticas.

A “Wikipédia” fornece a propósito da vida e obra de Landell Moura informações interessantíssimas. Alinhamos abaixo, condensadas, algumas delas. Ele previa a possibilidade da comunicação com inteligências de outros mundos. Defendia a quebra do celibato sacerdotal. Promovia estudos sobre as chamadas manifestações mediúnicas. Valia-se dos instrumentais da psicologia para aprofundar-se na avaliação das reações comportamentais humana. Sustentava a eficácia da homeopatia. Por conta de suas ideias e realizações levantou, em diversos momentos, vociferações iradas de fanáticos fundamentalistas. A intolerância com relação ao seu trabalho chegou a tal ponto que, em certa oportunidade, vândalos destruíram o laboratório em que promovia experimentos em Campinas. Em 1892, antes mesmo de Marconi anunciar êxito nos testes que o consagraram mundialmente, o inventor brasileiro construiu o primeiro transmissor sem fios de mensagens. De acordo com Fornari, seu contemporâneo, autor da primeira biografia do padre, Landell conduziu, entre 1893 e 1894, a primeira transmissão pública de som por meio de ondas hertzianas. O evento aconteceu entre pontos identificados como o Alto da atual avenida Paulista e o Alto do Santana, na capital paulistana, cobrindo distância de 8 quilômetros. Na mesma ocasião, ele ainda testou um transmissor de ondas, um equipamento de telégrafo sem fio e um aparelho telefônico sem fio. Depoimentos atribuídos a um sem número de personalidades da época, estampados no “Correio do Povo”, resgatados por Hamilton Almeida, colocam suas primeiras demonstrações trazidas a público no período que medeia os anos 1890 e 1896. Os registros das bem sucedidas ações foram se acumulando. Por volta de 1899 o “Jornal do Commércio” divulgou façanha mundial pioneira de Landell no tocante à transmissão do som sem fio. O texto vindo a seguir é extraído do referido órgão: “Nas diversas experiências executadas recentemente notou o inteligente inventor, que a zona que à mercê das vibrações do éter percorrem o som articulado, se vai alargando à medida que se aproxima do receptor, de modo que, colocando-se vários desses receptores dentro do mesmo campo de recepção, alguns metros separados um dos outros, todos eles recebem ao mesmo tempo com a mesma clareza a palavra transmitida. Deste resultado, que se saiba, não o obteve sábio algum, nem no velho nem no novo mundo. Cabe ao padre Landell toda a glória da invenção. Para tal alcançar não se pense que o infatigável homem de ciência foi de um salto. Há muitos anos que faz experiências e estuda metodicamente, entregando-se inteiramente à construção do triunfo que acaba de conseguir, sujeito por certo às leis da mais esquisita precisão, das quais fez nascer o seu pequeno aparelho transmissor e seu pequeníssimo receptor.”

As fontes em que nos louvamos para compor esta narrativa sobre o fulgurante itinerário do genial brasileiro assinalam que em 3 de junho de 1900 ocorreu a primeira inequívoca e consagradora demonstração pública dos extraordinários inventos  atribuídos a Landell Moura.


Landell teve seu momento de Galileu

Cesar Vanucci

“Os inventos não mais me pertencem!”
Padre Landell Moura)


Como revelado em comentário anterior, Roberto Landell Moura requereu e obteve as patentes de alguns inventos durante sua permanência nos Estados Unidos. A divulgação de seus feitos atraiu a atenção de empresários norte-americanos, que lhe propuseram parceria para a produção industrial dos aparelhos concebidos. O padre-inventor brasileiro recusou, entretanto, a chance que se lhe ofereceram de tornar seu fabuloso trabalho conhecido em ampla escala. A atitude assumida contrastou com a de outros inventores geniais, como Thomas Edison e Alexander Graham Bell, que se fizeram celebridades mundiais graças a portentosas criações técnicas naquele preciso momento de pronunciada efervescência científica vivido pela nação norte-americana. Assinalou, candidamente, a propósito, o seguinte: “Os inventos já não mais me pertencem! Por mercê de Deus, sou apenas o depositário deles. Vou levá-los para minha pátria, o Brasil, a quem compete entregá-los à humanidade”.

Fica difícil avaliar o tamanho de sua frustração! As lideranças brasileiras não se sensibilizaram nadica de nada com essa manifestação de idealismo, desprendimento e civismo. De volta ao Brasil, designado pároco de Botucatu, requereu, esperançoso, recursos oficiais para a continuidade do trabalho e lançamento dos inventos em proveito comunitário. Os apelos não encontraram eco. Reivindicou do governo Rodrigues Alves que disponibilizasse dois navios da Marinha para um teste pioneiro no mundo de transmissão sem fio a longa distância. O pedido foi rejeitado com desdém. Houve no alto escalão quem classificasse Landell de “maluco”. Abra-se aqui parêntese para anotar que, mais ou menos na mesma época, navios da Marinha dos Estados Unidos foram cedidos a inventores estadunidenses para pesquisas assemelhadas.

Os obstáculos antepostos à ação vanguardeira de Landell causaram-lhe compreensível desgosto. Mas não o esmoreceram. Sua capacidade inventiva manteve-se incólume. Seu diálogo com o poder político e superiores religiosos mostrou-se, inúmeras vezes, tumultuado e tenso. Mas ele conservou-se confiante na empreitada de contribuir para o engrandecimento da ciência e a inclusão do Brasil “na ampla e ilimitada esfera dos modernos cometimentos científicos”. Dizia sempre que seu trabalho visava abolir superstições e fortalecer a fé. A declaração vinda abaixo é emblemática: “Desejo mostrar ao mundo que a Igreja Católica não é uma inimiga da ciência e do progresso humano. Indivíduos da Igreja podem num e noutro caso ter se oposto à luz, mas fizeram-no na sua cegueira pela verdade católica. Eu próprio já deparei com grande oposição de meus companheiros de fé. No Brasil, um populacho supersticioso, afirmando que eu tinha partes com o diabo, invadiu o meu gabinete e destruiu o meu aparelho. Quase todos os meus amigos de educação e camaradas intelectuais, seculares e leigos indiferentemente, consideram as minhas teorias contrárias à ciência. Sei bem o que é sentir como Galileu e exclamar como ele: “E pur si muove”. Quando todos eram contra mim, eu contentava-me em conservar-me no meu terreno, e dizia: É assim; não pode ser de outro modo”.

A “Wikipédia” registra outros trechos eloquentes e sugestivos da visão científica desbravadora de Landell. Estes ditos seus são de 1893. “Todo movimento vibratório que até hoje, como no futuro, pode ser transmitido através de um condutor, poderá ser transmitido através de um feixe luminoso; e, por esse mesmo fato, poderá ser transmitido sem o concurso desse agente. (...) Todo movimento vibratório tende a transmitir-se na razão direta de sua intensidade, constância e uniformidade de seus movimentos ondulatórios, e na razão inversa dos obstáculos que se opuserem à sua marcha e produção. (...) Dai-me um movimento vibratório tão extenso quanto a distancia que nos separa desses outros mundos que rolam sobre nossa cabeça, ou sob nossos pés, e eu farei chegar minha voz até lá.



Preparativos de Natal

Cesar Vanucci

“E o menino da manjedoura, onde é que ele entra nisso?”
(Dona Candinha, arrematando discussão)


- Manda chamar os meninos pra resolver o assunto. Pra mim, domingo pela manhã está de bom jeito.

Porfírio definiu, desse modo, com Emerenciana, a cara-metade, a reunião com os filhos, noras e genros para discussão dos preparativos das comemorações natalinas. Nem todos familiares convocados para o encontro puderam comparecer. Lavico, o mais novo, solteiro, alegou haver assumido com companheiros do clube dos motoqueiros, no mesmo dia e horário aprazados, compromisso irrevogável de percorrer uma trilha recém-aberta na zona rural de São José do Mantimento. Flavinha, amargando a recente separação conjugal, mandou pedir desculpas pela ausência, motivada por viagem pra Trancoso onde pretende flanar até o carnaval. Os demais filhos, Laurita, Segismundo e Betão, acompanhados dos respectivos cônjuges, Celinho, Arminda e Gerusa, atenderam à convocação, trazendo contribuições para o debate acerca da organização do festejo.

Enquanto Emerenciana servia os saborosos tira-gostos e bebidas requisitados para a ocasião, Porfírio tomou da palavra para explicar o objetivo da reunião. Lembrou que o Natal é, por excelência, um momento de congraçamento familiar. Gostaria, portanto, que todos marcassem presença numa única festividade. Para isso queria ouvir sugestões e propostas. A primeira intervenção foi de Laurita, filha mais velha. Na opinião da dita cuja, “deveríamos, todos, adquirir um número necessário de mesas num hotel de classe “A” para uma comemoração verdadeiramente condigna”. Largada no ar a sugestão, dirigiu-se ao esposo, professor de Português, indagando: “comemoração condigna, é assim mesmo que se diz?” A resposta de Celinho, com o olhar, tranquilizou-a, animando-a a partir pros detalhes de uma “oferta supimpa de serviços natalinos” encaminhada por “um estabelecimento de categoria”, conforme folheto ilustrado em mãos. Rega-bofe do melhor, espumante francês autêntico, árvore de Natal carregada de caixas de chocolate importado, a serem distribuídas entre os convivas, conjunto musical de renome com repertório carnavalesco de primeira pra execução a partir da meia noite.

A mulher de Betão, Gerusa, como de praxe, discordou da cunhada. Sustentou que Natal “é pra ser comemorado em casa”. Tanto é que ela, marido e filhos já haviam deliberado passar a noite de 24 na residência dos pais dela, o que não significava não pudessem reservar, também, noutra faixa de horário, um tempinho pra confraternização com os sogros. O Betão adicionou à explicação da patroa a notícia de que seu filho Tininho, integrante de uma banda “que já se apresentou até na televisão reservou espaço no enorme jardim do casarão dos avós maternos, onde se dará a folia, para show especial, na base do roque bate-estaca, já tendo, por sinal, convidado toda sua agitada patota.”

Chega a hora de Segismundo e Arminda opinarem. Eles são pela realização da festa na casa de Porfírio e Emerenciana. “Afinal de contas, a casa-matriz de nós todos”, ponderam, felizes com a manifesta demonstração de concordância do casal anfitrião à ideia. Mas, em seu entendimento, o sucesso da comemoração só ficará devidamente assegurado com a contratação do bufê mais requintado da cidade. “Aquele dirigido por um famoso “chefe” belga, que atuou no casamento mais badalado da temporada, conforme saiu no jornal. Tinha faisão, javali, caviar, cascata de camarão. Nada dessa coiseira de peru, chester, sardinha, onde já se viu!”

“Quanto à decoração – anotou-se ainda – pra ficar mais em conta, a gente mesmo assume, com a ajuda, tá claro, de uma arquiteta, nossa vizinha. Ela cobra quantia razoável pela iluminação do jardim, num estilo que possa lembrar, guardadas as proporções, a praça da Liberdade”.

O papo, bastante acalorado, avançou nesse diapasão por bom pedaço de tempo, com excessivos “comes e bebes”, mais “bebes do que comes”, sem se chegar a uma conclusão sobre como fazer o Natal. Dado momento, Emerenciana atentou para a circunstância de que dona Candinha, sua veneranda genitora, quietinha da silva no canto da sala, aboletada na poltrona cativa, bastante lúcida para seus bem vividos 90 anos, embora acompanhando com atenção a prosa da corriola familiar, ainda não havia emitido nenhum ponto de vista sobre a momentosa questão debatida. Resolveu provocá-la: - E a senhora, aí, mamãe, o que acha?

A resposta parecia já estar engatilhada na pontinha da língua: - O que eu penso é que vocês estão jogando muito palavrório fora sem falar bulhufas no aniversariante.

“Mas alguém aniversaria na data?” – perguntou num rompante, sem se dar conta do vexame, a despachada Celinha. “O menino da manjedoura, sua tolinha, o menino da manjedoura. Cumé que ele entra nisso?”. Dona Candinha falou e disse assim, assim se calou. Ninguém se aventurou a mais perguntas. E a movimentada reunião terminou sem qualquer definição sobre a comemoração.






O bicho-homem e o ser humano.
Maria Inês Chaves de Andrade*

Na mitologia grega, Croto é um sátiro considerado o inventor dos aplausos, tendo sido colocado por Zeus entre as constelações, tanto reconhecimento ao talento alheio promovia. O excroto, então, definamo-lo como aquele que perdeu a capacidade de perceber a excepcionalidade, fomentando o contra-espetáculo da humanidade, tão indisposto ante os sujeitos de direitos em atuação. Ora, tomemos o espetáculo da humanidade como aquele em que ensaia o ser humano, contracenando com o bicho-homem, sob o mesmo figurino aparente, mas essencialmente distintos em seus papéis. Ao ser humano cabe-lhe fomentar a efetivação dos direitos humanos – estejam todos positivados - para que assim se reconheça humano, através do Outro, sendo. Ao bicho-homem interessa-lhe saciar sua fome quando, para a satisfação de seu apetite subjetivo, autoriza-se a deglutir o quê e quem for preciso, gente e meio ambiente. O ser humano privilegia a Razão enquanto o bicho-homem, a animalidade; o primeiro, pela consciência de si como animal racional, e o segundo, ignorante desta dialética, subjugado pelos influxos da natureza, ostenta uma racionalidade amiudada. A fome do ser humano tem profundidades; a do bicho-homem, profundezas. O apetite do bicho-homem é vário: moral, econômico-financeiro, sexual. É quando a moralidade promove a supressão ou adequação do Outro que não comunga consigo, consciência e “igreja”; quando o capitalismo ampara a selvageria e, recepcionando o homem como lobo do homem, convive com a escravidão, a exploração do trabalho infantil, a ofensa aos direitos individuais e sociais; quando o fazer amor se degenera em estupro e sevícia. O ser humano sabe-se imagem e semelhança do Ser Humano primevo, o Verbo tornado, então, carne de homem, mas distinto dele, essencialmente. O bicho-homem manufatura Deus à sua imagem e semelhança. Ambos embatem no teatro da vida, social e politicamente. O bicho-homem elege bancadas e o político excroto que o representa desconhece a pluralidade do elenco de atores que somos e a nenhuma demanda aplaude, senão as de seu roteiro fatigante. Sua egolatria releva o “eu” enquanto primeira pessoa e de tão singular, conjuga espelhos morais para que nenhum reflexo social não seja o sEu. No bicho-homem, a essência humana se corrompe e apesar da aparência, revela-se imprestável à representação. É quando do político excroto, ainda, diz-se dele que corrupto. A deterioração pública da essência humana revela a potência daquele bicho-homem enquanto predador, demonstrando que a aparência não o sustém no propósito que assume, legal e constitucionalmente. O bicho-homem se imiscui por toda a sociedade, mas é a relação dele com o poder que o denuncia. O ser humano sabe que o poder, qualquer que seja ele, é uma força a serviço da liberdade e por ela labora enquanto o bicho-homem o crê adstrito a si e, de tão complexa esta sua relação, na senda psicanalítica, diz-se dele que complexado. Os excrotos são muitos, mas foi Croto quem foi colocado entre as constelações porque, de tanto aplaudir, mereceu estrelas. As luzes da ribalta estão acesas e ascendida a essência humana na expectativa de sua efetividade. O espetáculo da humanidade precisa ser encenado por todos os homens de boa vontade – de vontade de povo, na peça “A Constituição da República Federativa do Brasil”, em palco de cidadania. Croto quer aplaudir enquanto o excroto vai a... Vaia sempre. Ora, a homofonia sugere mesmo o calão, mas muito mais cala fundo e não temos como dizer. O neologismo é nossa revanche.


* Vice presidente da ONG "Proação"

sexta-feira, 4 de janeiro de 2019


Resgatar a memória de Landell é preciso


                                                        Cesar Vanucci


“Aquele momento festivo cristalizou (...)
 a funcionalidade do invento do padre Landell”.
(Jornalista Hamilton Almeida, biógrafo)

Estudiosos da fabulosa obra do padre Roberto Landell de Moura não vacilam, um instante sequer, no reconhecimento de seu pioneirismo como inventor. Incluem-no, sem titubeios, na galeria dos mais geniais  criadores de  instrumentos agregados  ao  bem-estar e conforto da humanidade. Deploram, naturalmente, que o obscurantismo cultural oposto ao portentoso trabalho haja impedido a utilização, em dimensão planetária, de seus engenhos vanguardeiros. A indesejável  circunstância  concedeu a  outros personagens obstinados e talentosos a chance de despontarem como pioneiros, em seu lugar, na área das descobertas tecnológicas importantes. Está  positivado  que  Landell chegou  primeiro  até  em inventos que garantiram Nobel para cientistas detentores de renome que ele, Landell, viu-se impossibilitado de alcançar.


Elucidativo documentário levado ao ar pela TV Senado divulga informações preciosas sobre a saga Landell Moura. No citado trabalho acham-se enfileirados depoimentos de esplêndido conteúdo. São jornalistas, biógrafos e historiadores contando o que sabem, empenhados num acerto de contas indispensável com a história. Entre outros: Hamilton Almeida, Heródoto Barbeiro, Ivan Dorneles Rodrigues, Daltro D’Arisbo, Reinaldo Tavares, Francisco Assis de Queiroz, Vânia Abatte, Etevaldo Siqueira, José Marques de Melo, Ana Amélia Lemos e Sérgio Zambiasi, os dois últimos com presença no Senado.

Na “Wikipédia”, colhemos breve descrição, de autoria do padre-inventor, sobre as propriedades de suas invenções precursoras. Aqui está: “O aparelho Telauxiofono é última palavra, sobre telefonia com fio, não só pelo vigor e inteligibilidade com que transmite a palavra, mas também porque, com ele, se obtêm todos os efeitos do telefone alto-parlatore e do teatrofono. Com esta notável diferença, que se tratando da teatrofonia, é suficiente um só transmissor, por maior que seja o número dos concertantes. Além disso, com o Telauxiofono, o problema da telefonia ilimitada tornar-se-á uma realidade prática e econômica. O Caleofono, como o precedente, trabalha também com fio, e é original porque, em vez de tocar a campainha para chamar, faz ouvir o som articulado ou instrumental. É muito apropriado para escritórios. O Anematofono, com o qual, sem fio, obtêm-se todos os efeitos da telefonia comum, porém com muito mais nitidez e segurança, visto funcionar ainda mesmo com vento e mau tempo. É admirável este aparelho, pelas leis inteiramente novas que revela. O Teletiton, espécie de telegrafia fonética com o qual, sem fio, duas pessoas podem-se comunicar, sem que sejam ouvidas por outra. Creio que com este sistema poder-se-á transmitir por meio da energia elétrica a grandes distâncias e com muita economia, sem que seja preciso usar-se de fio ou cabo condutor. O Edifono finalmente serve para dulcificar e depurar as vibrações parasitas da voz fonografada, reproduzindo-a ao natural. Este aparelho tornar-se-á o amigo inseparável dos músicos compositores e dos oradores".

No memorial elaborado para obtenção, em março de 1901, da patente brasileira de um aparelho destinado à transmissão fonética à distância, com fio ou sem fio, Landell anotou que o invento permite “projetar pelo espaço a voz a distâncias bem regulares. Funciona com sol, chuva, tempo úmido e forte cerração, como também com vento contrário se usarmos de placas automáticas e, nestes dois últimos casos, a distância a que se pode chegar é verdadeiramente prodigiosa. No mar, quando há cerração, e nas regiões calmas, esse aparelho pode prestar muito bons serviços”.

Analisando recentemente as propostas científicas do sacerdote, o engenheiro Carlos Guerra Lima emitiu parecer salientando que, sem sombra de dúvidas, o equipamento concebido para transmissões revelou-se “muito mais complexo tecnicamente do que os desenvolvidos por Marconi e Rhumer”.

Em 1984, a Fundação de Ciência e Tecnologia de Porto Alegre reconstruiu o transmissor de ondas patenteado por Landell em 1904 nos Estados Unidos. Os testes foram muito bem sucedidos. Hamilton Almeida, biógrafo, conta que o aparelho foi exibido, pela primeira vez, em 1984, num ato comemorativo da Semana da Pátria. “Aquele momento festivo cristalizou de maneira incontestável a funcionalidade do invento do padre Landell”, registrou.

O leitor já percebeu claramente que a obra do padre Moura possui uma amplitude tal que se configura impraticável descrevê-la satisfatoriamente numa mera sequência de despretensiosos artigos. O que essencialmente importa, todavia, é chamar a atenção das pessoas para o indeclinável dever cívico que se impõe, perante a história, de se fazer o resgate da memória deste sábio, autêntico contemporâneo do futuro. Alguém, de fulgurância invulgar, injustamente encoberto pelas espessas brumas do esquecimento. No comentário vindouro, concluiremos nossa modesta participação no elogiável esforço em que se acham empenhados ilustres patrícios, no sentido de inserir o rico legado do padre-inventor no acervo oficial dos mais notáveis avanços científicos da civilização.




Acerto de contas histórico

Cesar Vanucci

“Roberto Landell de Moura foi o protagonista dessa façanha e pouca gente sabe disso.”
(Hamilton Almeida, biógrafo de Landell, sobre a invenção do rádio)

2019 assinalará o transcurso dos 120 anos da primeira transmissão mundial da voz humana por ondas radiofônicas. O sitio “Jornalistas&Cia”, engajado em campanha de mobilização de segmentos representativos da Nação brasileira com vistas ao reconhecimento dos extraordinários feitos científicos do padre Roberto Landell de Moura, está anunciando a disposição de intensificar o trabalho de divulgação da obra do genial inventor. Esclarece, a propósito, que muitas foram as conquistas na primeira fase da campanha, em 2010, ao ensejo da celebração do sesquicentenário do nascimento de Landell. Mas, mesmo assim, a fascinante saga do inventor do rádio e de outros instrumentos eletrônicos incorporados ao bem-estar humano continua ignorada pela grande maioria das pessoas. Anota alguns resultados expressivos já alcançados: o lançamento do selo comemorativo pelos Correios; a inclusão do nome de Landell no panteão dos Heróis da Pátria; a introdução da história padre-inventor no currículo escolar do ensino fundamental em Porto Alegre; a instituição do Prêmio Landell de Moura de Jornalismo, em São Paulo.

O jornalista Hamilton de Almeida, biógrafo de Roberto Landell de Moura, em depoimento ao “Jornalistas&Cia”, explica, com detalhes, porque considera 2019 importante na história radiofônica. Frisa: “Será ocasião para lembrar dois marcos do rádio no país. Em 16 de julho se completarão 120 anos da mais antiga experiência documentada de transmissão de voz humana por ondas de rádio. O padre Roberto Landell de Moura foi o protagonista dessa façanha e pouca gente sabe disso, infelizmente. Outro fato marcante será o centenário da radiodifusão. A Rádio Clube de Pernambuco foi fundada em 6 de abril de 1919 por um grupo que, na época, intitulava-se “amadores de telegrafia sem fio”.

Hamilton Almeida conta, na sequência, lances da primeira transmissão mundial da voz humana, produzida graças ao engenho criativo de Landell de Moura, marco histórico da invenção do rádio. “Se estivéssemos agora na São Paulo de 1899, a mídia se resumiria a jornais e revistas, cujo noticiário do exterior chegava por meio de cabos submarinos. Para as comunicações pessoais e empresariais teríamos apenas o telefone com fio e o telégrafo sem fio. Pesquisava-se, mas nenhum cientista em qualquer lugar do mundo havia tido êxito na transmissão da voz sem fio. A chamada radiotelefonia era um sonho dourado. Mas eis que surge um brasileiro, padre, com sólidos conhecimentos de física e uma dose considerável de genialidade, que acreditou que aquele sonho poderia tornar-se realidade. Após muitos estudos e testes ele convidou diversas autoridades públicas, empresários e jornalistas, e exibiu o inovador aparelho de rádio. Isso aconteceu nas dependências do Colégio Santana, na zona norte da capital paulista. Para fazer uma transmissão wireless da voz humana, com muitas testemunhas, Padre Landell construiu o mais primitivo aparelho de rádio do mundo de que se tem registro.”
“Jornalistas&Cia” interroga o biógrafo do sacerdote-cientista:“Qual a diferença básica das experiências de Landell e de Marconi, a quem hoje, inclusive em grande parte do Brasil, se atribui a invenção desse veículo de comunicação?” Resposta: “A grande diferença é a voz; e os sons musicais. En­quanto o brasileiro mostrava que era possível fazer transmissões de rádio ponto a ponto e de radiodifusão, o italiano usava as ondas de rádio para transmitir sinais em código Morse. Portanto, quando se cogita da invenção de um veículo de comunicação como o rádio, em que escutamos vozes e músicas, quaisquer sons, não há como tirar o mérito do padre Landell. Os dois souberam empregar as ondas de rádio para enviar e receber mensagens. Foram grandes conquistas da humanidade. Mas um inventou o rádio e o outro, o telégrafo sem fio. Ambos foram pioneiros da era “wireless”, que tem pouco mais de um século, assim como (Nikola)Tesla, com o controle remoto.”

Cabe registrar que muitas outras louváveis iniciativas têm sido promovidas, de tempos a esta parte, no sentido de assegurar a Landell a glória que lhe foi negada em vida. O “Movimento Landell de Moura”, que batalha incansavelmente pelo reconhecimento de seu nome em larga escala, propôs ao Governo que reivindique internacionalmente o pioneirismo do brasileiro na invenção do rádio. Os radioamadores brasileiros têm Landell como patrono. Porta-vozes da Igreja Católica deixaram consignada, em mais de uma ocasião, chegando até mesmo a formularem pedido de perdão, sua fabulosa contribuição para o progresso da ciência, para os avanços civilizatórios e para a conciliação dos valores esposados pela ciência e pela fé.

Configura-se assim, de forma estrondosa, a justiça, que outra coisa não representa a verdade em ação, de toda esta acumulação de esforços em torno da ideia de um resgate, à altura de sua grandeza como ser humano, da memória do genial brasileiro. O Brasil não pode furtar-se ao dever de promover este acerto de contas com a história em torno da vida e obra do padre-inventor. Por força de numerosos fatores adversos, entre eles o obscurantismo cultural, várias invenções de Landell, apontadas em nossas singelas narrativas, acabaram sendo “inventadas” por outros cientistas, como salienta o biógrafo Hamilton de Almeida.




Gentilmente enviado pelo amigo Silviano Cançado Azevedo, belo texto de autoria de Bruno Pitanga, doutor em neuroimunologia, neurocientista, professor universitário e palestrante. 


"ORE

Pra viver melhor, não se preocupe, *se ocupe.* Ocupe seu tempo, ocupe seu espaço, ocupe sua mente. Não se desespere, *espere.* Espere a poeira baixar, espere o tempo passar, espere a raiva desmanchar. Não se indisponha, *disponha.* Disponha boas palavras, disponha boas vibrações, disponha sempre. Não se canse, *descanse.* Descanse sua mente, descanse suas pernas, descanse de tudo. Não menospreze, *preze.* Preze por qualidade, preze por valores, preze por virtudes. Não se incomode, *acomode.* Acomode seu corpo, acomode seu espírito, acomode sua vida. Não desconfie, *confie.* Confie no seu sexto sentido, confie em você, confie em Deus. Não se torture, *ature.* Ature com paciência, ature com resignação, ature com tolerância. Não pressione, *impressione.* Impressione pela humildade, impressione pela simplicidade, impressione pela elegância. Não crie discórdia, *crie concórdia.* Concórdia entre nações, concórdia entre pessoas, concórdia pessoal. Não maltrate, *trate bem.* Trate bem as pessoas, trate bem os animais, trate bem o planeta. Não se sobrecarregue, *recarregue.* Recarregue suas forças, recarregue sua coragem, recarregue sua esperança. Não atrapalhe, *trabalhe.* Trabalhe sua humanidade, trabalhe suas frustrações, trabalhe suas virtudes. Não conspire, *inspire.* Inspire pessoas, inspire talentos, inspire saúde. Não se apavore, *ore.* Ore a Deus! Somente assim viveremos dias melhores.”

sábado, 22 de dezembro de 2018



Landell antecedeu Marconi

Cesar Vanucci

“O que primeiro penetrou (...) os grandes segredos da telúrica etérea foi um brasileiro”.
(Artigo publicado em “La Voz de España, em 1900)

Como enfatizado no comentário passado, a primeira demonstração pública inequívoca dos efeitos práticos e eficazes dos inventos de padre Landell Moura deu-se em São Paulo em 3 de junho de 1900. Evento altamente prestigiado, aglutinou autoridades, diplomatas estrangeiros, gente do povo, “sendo coroado de brilhante êxito”, conforme noticiou o “Jornal do Commércio”, periódico de grande aceitação perante o público leitor da época. Conta a “Wikipédia”, a propósito, que “a bibliografia brasileira em geral aceita este testemunho como fidedigno.” Mais: do ponto de vista dos biógrafos de Landell é bastante plausível a hipótese de que a experiência na transmissão de som sem fio tivesse acontecido bem antes disso. Admite-se, também, que o padre-inventor brasileiro haja antecedido ao próprio Guglielmo Marconi na conquista tecnológica referente à transmissão de sinais telegráficos.

O jornal “La Voz de España”, na edição de 10 de dezembro de 1900, estampa artigo de J. Rodrigo Potet que serve para reforçar o vanguardeirismo de Landell. Abaixo, trechos da manifestação. “Um jornal da capital federal atribuiu a invenção desse aparelho, que tem a propriedade de transmitir a voz humana a uma distância de 8, 10 ou 12 quilômetros sem necessidade de fios metálicos, ao engenheiro inglês Brighton. O diário a que me refiro está mal informado. Nem a invenção do sistema de transmitir a palavra a distâncias é recente, nem foi o inglês o primeiro sábio a resolver satisfatoriamente esse árduo problema, que envolveu os mais intrincados princípios físico-químicos que podem oferecer-se à ciência humana. O que primeiro penetrou e descobriu os grandes segredos da telúrica etérea com glória e proveito, faz pouco mais ou menos um ano, foi um brasileiro, foi o nobre sábio padre Roberto Landell de Moura. Porque acompanhei passo a passo os estudos de seus inventos sobre telegrafia e telefonia com e sem fios; porque fui testemunha presencial de varias experiências, todas prodigiosas; e porque tive a honra de me ocupar do sábio e de suas eminentes obras em dois artigos publicados em “El Diário Español”, de São Paulo, artigos que mereceram a honra de serem reproduzidos no Rio de Janeiro, no “Jornal do Commércio”; por tudo isto, julgo-me obrigado a sair agora em defesa do direito de prioridade que assiste ao benemérito brasileiro padre Roberto Landell de Moura, no que tange à transmissão da palavra falada sem necessidade de fios. (...) O mérito cresce de ponto, em se considerando que os inventores europeus e americanos dispõem de operários mecânicos inteligentíssimos e de fábricas e laboratórios onde escolher as peças que a feitura de seus mecanismos requer. O padre Landell tem que conceber ele mesmo e executar os aparelhos, sendo a um só tempo o sábio que inventa, o engenheiro que calcula e o operário que forja e ajusta todas as peças de complicadíssimos mecanismos. (...) Mas acontece que o humilde sacerdote se fecha em sua modéstia habitual em vez de dormir sobre os louros. Os poucos amigos e admiradores que tem ao seu lado são capazes de compreender o sábio e avaliar o valor de seus inventos.”

Da documentação ampla coletada pelos estudiosos da extraordinária obra de Landell, personagem posicionado de forma realçante na galeria dos inventores mais criativos da história, consta, ainda, que em 9 de março de 1901, o brasileiro obteve a primeira patente para um “aparelho destinado à transmissão fonética à distância, com fio ou sem fio, através do espaço, da terra e do elemento aquoso”. A esta altura dos acontecimentos, os superiores hierárquicos do padre-inventor, alterando condutas anteriores, avessas e até mesmo hostis ao magnifico esforço de Landell, com o talento que Deus lhe deu, em contribuir para a expansão da consciência e do conhecimento tecnológico, concederam-lhe permissão para se aprofundar nas experiências em que já se achava engajado. Isso favoreceu fizesse uma excursão científica por países europeus e Estados Unidos. Em Nova Iorque, onde permaneceu cerca de quatro anos, Landell concebeu três aparelhos, requerendo patentes. O jornal “New York Herald” ocupou-se, em 1902, de suas admiráveis façanhas técnicas. Abriu-lhe espaço para entrevista com foto, ressaltando na reportagem o seguinte: “Por entre os cientistas, o brasileiro padre Landell de Moura é muito pouco conhecido. Poucos deles têm dado atenção aos seus títulos para ser o pioneiro nesse ramo de investigações elétricas. Mas antes de Brighton e Ruhmer, o padre Landell, após anos de experimentação conseguiu obter uma patente brasileira para sua invenção, que ele chamou de “Gouradphone”.

Nos Estados Unidos, o brasileiro conseguiu, em 1904, registrar as patentes requeridas. A primeira, alusiva a um “transmissor de ondas”. As outras, concernentes a um “telefone sem fio” e a um “telégrafo sem fio”. Data da mesma ocasião o anúncio de seu projeto para transmissão de imagens à distância. Tal projeto confere-lhe, no entendimento dos biógrafos, a condição de pioneiro em matéria de televisão, teletipo e controle remoto.

A prodigiosa história do Padre Roberto Landell Moura reclama, obviamente, novas considerações.




PAINEL DE IDEIAS


                                                                                                 O que dizem outros articulistas


 Um gênero de loucos.
Maria Inês Chaves de Andrade*

Somos loucos de todo gênero: heterossexuais, lésbicas, gays, bissexuais, transgêneros, queers, intersexuais, assexuais e pansexuais. A sigla mais hodierna para designar o nosso plúrimo é LGBTQIA+ dando a assomar-se quem mais, seja como for e vindo a dar-se consigo, não se reconheça sob nenhuma chancela. Mas, há um gênero de loucos que assombra sem gênero. Sua degenerescência está na medida da integridade alheia, a que julga, condena e executa acaso o afronte pessoalmente, já que sabe como tudo deve ser.  O degenerado não reconhece a beleza, nem as nuances da sedução, estas que suscitam os amantes certos de cada um. A gênerosidade da carne sob roupa e trejeito e caras e bocas de tantos nada lhe diz, senão o transtorna, tanto maior tenha sido o armário dentro da caixa que se abriu enquanto ele sonhava com a tampa. A igualdade o incomoda porque aquela gente nada tem de similitude consigo e da diferença que ora se proclama são mesmo resto. O degenerado se excita com a pasteurização, mas tem trauma de iogurte em prateleira de queijo prato. Sem consistência alguma insiste no desgosto, este paladar apurado na angústia alheia. E de tal ordem propõe a desordem, que entende o ordenamento jurídico como óbice à sua postura de radical livre, este que pleiteia a assunção de um arbítrio absoluto, para oxidar tudo o que toma por anômalo já que é normal. Este gênero de louco ofende os loucos de todo gênero. Ora, gravidez de biquíni já foi gravíssima; liberdade para negros, nigérrima; minissaia, longamente indecente; direito ao trabalho e voto feminino, o fim da sociedade; colégio misto, decomposição moral; adultério, crime; divórcio, impensável. Mas, o degenerado não pensa mesmo. Ele prefere a ignorância porque sabe que ela mata e este é o propósito ideal. A medida do mundo é sua desmedida e nunca tem cabimento o que ele diz, embora sempre dê a saber de seu discurso inflamado. Quanta pústula há sob a incandescência! A gritaria dele dá-lhe a ouvir apenas a própria voz, já que a voz do povo, expressa na Constituição da República, não dá azo à outra ausculta senão que nosso objetivo fundamental é “promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação”. Este degenerado tem uma sensibilidade específica, adstrita às opções de gênero, mas nada do que há a merecer sua sede, em sede mesmo de sexualidade, o provoca. O macho de ocasião, aquele que se inscreve sempre a macerar o mais frágil, não o altera. Nem liga se há feminicídio, estupro, pedofilia... O macho de ocasião, em certas ocasiões, é mais macho. Nos coletivos, importuna e coletivamente, violenta. Mas, a submissão de tantos se explica se o propósito é submeter. Nem sabe o degenerado que macho é o homem que contém a si mesmo, mais que aparentemente macho. Sua essência humana degenera-se e paulatinamente rescende à putrefação de sua espiritualidade, por mais que encontre amparo na “igreja”, porque a Carta Magna resta promulgada sob a proteção de Deus e nesta missiva está nossa missão.

Vice-Presidente da ONG “O Proação”

A SAGA LANDELL MOURA

Privatização que não deu certo

    *Cesar Vanucci “Inadmissível! O apagão deixou SP às escuras por uma semana inteira” (Domingos Justino Pinto, educador)   Os ha...